quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Etnográfico ou Folclórico



Já por diversas ocasiões fiz saber que não sou versado em nada no que diz respeito a estes assuntos intrinsecamente ligados à Antropologia Cultural (bem que gostaria), somente empresto a minha disponibilidade, querer e paixão por tudo o que tenha a ver com a história recente do nosso povo em geral e da minha comunidade em particular. Portanto, quem com conhecimentos comprovados de causa me queira interpelar e emendar por alguma coisa mal dita ou menos assertiva, faça o obséquio.

Faz-me uma confusão tremenda – palavra que faz – a constante “guerra surda” travada no seio da comunidade que se dedica ao estudo, preservação e representação das tradições populares, entre o “Folclórico” e o “Etnográfico”, mais concretamente os grupos/ranchos folclóricos, os grupos/ranchos etnográficos e também aqueles que se auto-intitulam de etnográficos e folclóricos simultaneamente. Quer-me parecer que essa mesma confusão é transversal a uma grande maioria das pessoas do movimento, embora não o admitam. Eu tenho uma opinião formada sobre o assunto, contudo antes de a emitir gostaria de deixar aqui bem explicito as definições de ambas as palavras, transcrevendo sucintamente um apanhado de alguns estudiosos do ramo:

Folclore é o conjunto de tradições e manifestações populares constituído por crenças e superstições, lendas, contos, provérbios, canções, danças, artesanato, jogos, religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas e dialectos característicos, adivinhações, festas e outras actividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo. A palavra de origem inglesa é formada pela junção de folk (povo) e lore (sabedoria ou conhecimento). O folclore simboliza a cultura popular e apresenta grande importância na identidade de um povo, de uma nação. Para não se perder a tradição folclórica, é importante que as manifestações culturais sejam transmitidas através das gerações.

Etnografia é o estudo descritivo da cultura dos povos, sua língua, raça, religião, hábitos etc., como também das manifestações materiais de suas actividades. É a ciência das etnias. Do grego ethos (cultura) + graphe (escrita). A etnografia estuda e revela os costumes, as crenças e as tradições de uma sociedade, que são transmitidas de geração em geração e que permitem a continuidade de uma determinada cultura ou de um sistema social.

Direi então em jeito de resumo e muito sumariamente, que, o Folclore é um conjunto de tradições populares e a Etnografia o estudo dessas mesmas tradições.



Bom, então em que patamar ficamos na discussão? É mais indicado acrescentar o “Folclórico” ao nosso conceito de grupo, ou por outro lado o “Etnográfico" assenta melhor?

Respondendo ao anseio de muitos dos nossos amigos sobre aquilo que melhor lhe convém, acho que muita gente faz a distinção entre uma coisa e outra definindo os grupos da seguinte forma: Folclóricos são todos os grupos que se apresentam de alguma maneira “despidos” de qualquer adereço que vá para além do hábito de cada um dos seus elementos, fazendo por assim dizer, uma apresentação baseada unicamente nas áreas da melodia, canto e dança. Por conseguinte consideram etnográficos, todos os grupos que se façam acompanhar dos tais adereços da sua vida quotidiana onde se incluem os artefactos de trabalho e de índole pessoal. Volto a repetir para que não me apontem o dedo em riste, que esta é uma opinião generalizada da malta do folclore, enquanto as definições que atrás apresentei (Folclore e Etnografia) não são da minha autoria, são definições avulsas nos diversos sites que qualquer um pode livremente consultar.


A minha visão de um grupo representativo das tradições e vivências dos seus antecessores é abrangente, na medida que deve englobar todas as vertentes possíveis no mesmo quadro a apresentar em determinada iniciativa. Ao visionarmos aquele conjunto que temos ali à nossa frente, devemos conseguir entrar no mundo que cada personagem nos dá a entender, sem dificuldade de maior. Se temos ali uma personagem que representa a figura de um pescador por ex, devemos para além das vestes que usualmente utilizava, apresentar alguns dos objectos que facilmente identificamos como pertencentes àquele mundo que facilmente imaginámos. Devemos encontrar uma pessoa que saiba encarnar minimamente a personagem que representa.

Ao observarmos aquele grupo, será desejável encontrar as várias personagens que coabitavam num determinado espaço físico e temporal da história de uma identificada comunidade, uma representação da sociedade da época, com a sua diversidade e complementaridade social, as suas valências, as suas diferenças. Devemos observar um grupo que se saiba posicionar e ocupar os espaços convenientemente de forma sóbria e racional. Concluindo, o folclórico e o etnográfico complementam-se, entrelaçam-se e são indissociáveis. Portanto e por tudo o que até aqui argumentei, aceito melhor a designação de “Folclórico” em detrimento do “Etnográfico”, se bem que o conceito está um pouco esbatido e gasto pela péssima utilização a que tem estado sujeito nos últimos anos.


 Texto de opinião de;  Custódio Rodrigues


terça-feira, 18 de novembro de 2014

LENÇO DE TABAQUEIRO



Ninguém imagina certamente um agricultor de fato e gravata a lavrar a terra ou um professor vestindo pijama na sala de aulas. Vem isto de propósito do uso do lenço de tabaqueiro o qual muitas vezes ranchos e grupos apresentam enrolado ao pescoço dos componentes masculinos . Outros porém em meu entender de forma mais apropriada, optam por o ter no bolso com a ponta de fora , como sucede com muitos ranchos e grupos de folclore.


O lenço tabaqueiro surgiu entre nós como um acessório, no inicio do século XVII em consequência directa do consumo do tabaco, hábito trazido pelos espanhóis do continente americano. O tabaco era consumido pelos indígenas que acreditavam nos seus poderes medicinais, razão pela qual o consumiam em ocasiões cerimoniais, o tabaco era mascado ou aspirado sob forma de rapé, tornando-se um hábito social que perdurou até aos finais do século XIX altura que se começou a generalizar o consumo do tabaco sob forma de cigarros.

O consumo do rapé consistia em levar o tabaco em pó às narinas a fim de ser fortemente aspirado, gesto que provocava o espirro ou o pingo no nariz, sendo estão considerado um óptimo estimulante nasal. 

Esta reacção requeria naturalmente o uso de um pano, geralmente de algodão, para efeitos de higiene pessoal, passou a ser dobrado e guardado no bolso. Isto nada tem a ver com costume entretanto surgido do uso de um lenço de seda ao pescoço, o qual se apresenta em substituição da secular gravata, nem tão pouco o lenço de cabeça outrora utilizado pelas mulheres.

Foi em Alcobaça que em 1774 se instalou em Portugal a primeira fábrica de lenços, cambraias e fazendas brancas, ao tempo do reinado de D. José I , razão pela qual esse género de lenço também é conhecido por « o Alcobaça » . Ao longo do tempo produziu uma grande variedade de padrões, sendo que geralmente apresentam fundo vermelho, azul ou amarelo, com barras brancas de diversas cores.


Compreensivelmente, tratando-se de um objecto de higiene pessoal, a ninguém lembraria enrolar ao pescoço o referido lenço que servia para assoar o nariz do efeito provocado pelo cheiro do rapé. Mas com efeito alguém teve a triste ideia, de o dobrar ao meio e atando-o ao pescoço , gesto que se multiplicou por numerosos grupos e ranchos de folclore que o assimilaram como se de algo genuíno se tratasse ou seja, ele fosse realmente usado ao pescoço do homem no século passado. Quero dizer que os responsáveis desses grupos não se deram ao trabalho de investigar, limitando-se a copiar aquilo que simplesmente os impressionou e pareceu bem.



Do ponto de vista etnográfico, não pode o trajo com referência a uma determinada época e região em concreto ser apresentado de uma determinada forma ou ser-lhe acrescentado algo porque assim nos agrada, devendo limitarmo-nos a identificar como as pessoas realmente se vestiam, independentemente da eventual beleza e exuberância do vestuário que era usado, como tal o lenço de tabaqueiro é apresentado por grupos folclóricos deve ser repensada!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A palavra FOLCORE- Um pouco de História



Foi em 22 de Agosto de 1846 que a palavra folk-lor,apareceu pela primeira vez num artigo na revista inglesa ,The Athenaeum, subscrito por Ambrose Merton, (pseudónimo de William Joohn Thoms, arqueólogo Inglês).

A palavra Folk- lore,de conteúdo muito rico.( Folk-Povo=Lore= Saber) Saber do povo( tradução para Português) provocou fulgurante aceitação e  passou a designar a disciplina que estuda todas as formas da cultura espiritual dos povos.

 Com o decorrer dos tempos, as duas palavras foram grafadas sem hífen, formando uma só, FOLCLORE, até que a reforma ortográfica, substitui a letra “k“ pela letra “C” derivando a forma  FOLCLORE.

Muitos começaram a pesquisar e recolher  nessa estrita compreensão e a nova actividade, ligou-se intimamente á literatura como escreve William Thorms trata-se de um “ interessante ramo de actividades literárias “, embora advirta, seja mais propriamente um saber popular do que uma literatura saber tradicional do povo.

A própria pesquisa alargou o âmbito da observação ao elemento histórico.

Os historiadores viram no Folclore um capítulo particular da história. Aprofundaram-se as investigações e notou-se que o saber tradicional dos povos não se reflectia apenas na literatura, havia também a sua experiência em outras práticas associadas a um sem numero de manifestações. Nada disso se podia alcançar sem conhecer o comportamento do homem nos seus conglomerados .

Em 1876 funda-se em Londres a primeira associação cientifica para o estudo do Folk- Lore: Folk-lore Society,e dela fazem parte cientistas como Thoms Tylor e Lang.

Em 1888 funda-se na América a American Folk-lore Society .

 O interesse pelo Folclore alarga-se a todos os continentes.

 Em Portugal destacam-se entre outros, Teófilo Braga, Adolfo Coelho, Leite de Vasconcelos, Rocha Peixoto, que com o seu «gravador» papel e lápis percorrem o pais, pesquisando e recolhendo o saber do povo ( Folclore).
Em Portugal em 1923 aparece o primeiro grupo de folclore, Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço, fundado por Carlos Peixoto F. Sampaio poucos anos depois por todo o Pais aparecem vários grupos, alguns com alguma verdade do saber do povo,outros que se diziam de Folclore mas pouco ou nada representativos da cultura do povo a que pertenciam. 
Para que haja verdade na representação do Folclore e da Etnografia  é  preciso definir a aérea geográfica e a época que se pretende representar, e é neste espaço geográfico e tempo que se deve pesquisar, recolher, analisar, preservar e divulgar com toda a verdade.


Em 1977 é fundada a Federação do Folclore Português, que visa a valorização e defesa do Folclore e da Etnografia  nacional, criar e manter estruturas técnicas de apoio aos grupos de folclore, fomentar o intercâmbio entre os grupos nacionais e internacionais, promover e divulgar estudos relativos ao Folclore Português e a formação de museus dedicados á cultura popular.