domingo, 19 de outubro de 2014

A Etnografia e o Folclore na Sociedade Contemporânea


Caros amigos vou aqui explanar uma opinião minha e enriquecida com ajuda de alguns amigos, pois é fruto de um debate que tivemos sobre a temática do folclore, é um pouco longa mas desde já peço a máxima desculpa pois só a publicando na íntegra teria sentido.


Actualmente o folclore está e bem estabelecido e é reconhecido como uma ciência, a ponto de tornar seu objecto, a cultura popular ou folclore deveria ser instrumento de educação nas escolas e um bem protegido genericamente pela UNESCO e especificamente por muitos países, que inseriram muitos de seus elementos constituintes em seus elencos de bens de património histórico e artístico a serem protegidos e fomentados.




   O folclore não é, como se pensa, uma simples colecção de fatos disparatados e mais ou menos curiosos e divertidos; é uma ciência sintética que se ocupa especialmente dos camponeses e da vida rural e daquilo que ainda subsiste de tradicional nos meios industriais e urbanos. O folclore liga-se assim à economia política, à história das instituições à do direito à da arte à tecnologia, etc., sem entretanto confundir-se com estas disciplinas que estudam os fatos em si mesmos de preferência à sua reacção sobre os meios nos quais evoluem.

Um outro processo a merecer atenção é o da espetaculização das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e do turismo. 
  Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espectáculos, que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de massas.

Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e equipamentos disponíveis. 


  Por isso, é importante ressaltar esta “obviedade”. Outra verdade antropológica é que em praticamente toda e qualquer comunidade humana existem e interagem diversos componentes substantivos - indicadores sociais - que definem, identificam e constroem a cultura do grupo humano que aí vive.

  Folclore é, portanto, a ciência humana e social que estuda os fatos e as relações, os processos e as realizações de um grupo social- material, sociais e espirituais, objectivas e subjectivas, orais e escritas - tradicionais, funcionais e de aceitação colectiva ,integradas à vivência popular e à dinâmica do cotidiano, resultantes da difusão no tempo e no espaço.       
  Estas manifestações, também chamadas de cultura popular, coexistem com as formas de cultura erudita (ou académica) e de massa (ou de consumo), conservando suas funções histórico-sociais. O artesanato e a medicina caseira, as crenças e superstições, as gírias e provérbios, as danças e festas populares tradicionais são alguns entre os incontáveis exemplos, objectos da ciência folclórica. Para que ninguém fique em dúvida, o Folclore estuda o folclore razão pela qual muitas vezes a mesma palavra aparece com grafia diferenciada. Para se chegar ao conhecimento sobre o que é ou não é fato folclórico, devemos analisar alguns aspectos que constituem suas características primordiais.




     O Folclore não é símbolo de pobreza, nem propriedade particular de uma camada fixa ou predeterminada da população, ainda que seja entre a parcela da população com menores oportunidades de acesso ao conhecimento erudito e às informações veiculadas e/ou adquiridas através das instituições escolares, religiosas e políticas que o encontramos. Este segmento é que cultiva, mais intensamente, a maioria dos fatos e dos bens folclóricos, não porque quer, mas de maneira natural e com a mesma razão pela qual os pássaros cantam.


 Como tenho dito, A tradição é o conjunto de fatos e elementos (materiais, sociais e espirituais) que uma época ou uma geração doa ou entrega a que lhe sucede para que esta, por sua vez, o retransmita com seus fatos ou elementos incorporados à sua imediata sucessora. Tradição equivale a actualidade de fatos ou fenómenos no tempo e no espaço, porque ela é o factor de identidade - união, carácter, coerência e coesão - de um povo através dos tempos.

  Um fato folclórico é essencialmente um fato tradicional, isto quer dizer, um fato entregue ou doado de uma geração à outra. O jogo do "peão" é folclórico não porque nossos avós e pais brincaram, mas porque nós e nossos filhos brincamos e brincam. Ele é tradicional porque, vindo do passado, é actual e presente, além de ter uma função social e ser de domínio público.

  Ao contrário da História que é a ciência dos fatos humanos do passado, o Folclore estuda os fatos tradicionais no presente .

  Não existe povo que seja tão miserável que não tenha tradição, pois é ela que cria, fertiliza, alinhava, reproduz e incorpora os valores e realizações humanas de uma época. Ritos e costumes, técnicas e hábitos de trabalho, cantos e lendas, músicas e superstições, danças e jogos, enfim, todas as áreas da acção humana vivem, se recompõem, se cristalizam, se transformam, se criam, se difundem, se expandem, no tempo, no espaço e através da tradição. Os povos que não se conhecem a si mesmos, porque não se estudam, não se pesquisam, ou não se descobrem, por ignorância, por desinteresse, por vergonha de suas origens ou por excesso de valorização de valores culturais importados, nunca terão sua identidade e auto-estima formadas, nunca terão definido e conhecido sua personalidade e, portanto, jamais serão coerentes, autênticos e harmónicos.


   A criação no folclore

O individual e o colectivo, o anonimato e o popular estão sempre presentes num fato folclórico. Todos sabemos que toda e qualquer obra tem um criador, seja ele um cidadão comum, um poeta, um músico, um artesão, etc. Uma criação (material, social ou espiritual) passando do indivíduo-criador à sua colectividade, tornar-se-á popular se houver identificação (de função e aceitação) entre ambos, autor e comunidade.




   O valor funcional do folclore

Não se pode entender o Folclore como um conjunto de fatos gratuitos ou sem função. Tudo que o povo faz, pensa, sente e expressa está intimamente relacionado e integrado ao seu mundo e ao seu dia-a-dia social, material e espiritual. Os provérbios e as danças, e as anedotas, o artesanato e as superstições, os brinquedos e os remédios caseiros, entre outros tantos fatos, existem, não por existir, por geração espontânea, mas para atender e responder às necessidades ( intelectual, de lazer, religiosa, mágica, material, saúde, lúdica, existencial, etc.) de um grupo social local, regional ou nacional. Ninguém faz uma colher de pau à toa. Todos nós sabemos como fazê-la e para que serve: mexer doce , além de servir para bater (levemente) na cabeça de alguém; a gagueira passa com o susto .Assim como a colher de pau, todos os fatos folclóricos existem para atender a uma função cultural - social, económica ou espiritual - de um grupo ou de um povo.




  É preciso lembrar que o tom dominante de qualquer trabalho deve ser o presente, seja pela acção, seja pela função. Tudo o que a pessoa descrever deverá estar acontecendo ou ser usual na época em que o trabalho foi realizado. As coisas e os fatos passados interessam como elementos de ligação e reconstrução dos caminhos percorridos pelo tema do passado - de onde e como veio -ao presente, como está e como se vive hoje. O fato folclórico não é o ocorrido, mas sempre o que está ocorrendo. Volto a insistir que se dê especial atenção aos trabalhos sobre Folclore a partir de temas que possam envolver as pessoas, suas famílias e a comunidade onde vivem e funciona a escola, pois só assim, praticando, poderemos desmistificar o conceito de Folclore como algo estranho e distante do universo . Mesmo nas ocasiões em que haja interesse específico por um folguedo, uma dança ou uma festa, é importante estudá-la e verificá-la a partir da perspectiva do ambiente familiar e comunitário das pessoas.

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