segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Quem era Fernando Castro Pires de Lima

Fernando de Castro Pires de Lima nasceu a 10 de Junho de 1908, no Porto, e morreu a 3 de Janeiro de 1973.

Formou-se em Medicina pela Universidade do Porto, assumindo anos mais tarde a direcção da Enfermaria do Hospital Geral de Santo António, e as funções de Médico-Escolar e Professor de Higiene no Conservatório de Música do Porto. Foi também Presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e da Academia de Ciências da mesma cidade.

Para além da sua actividade clínica e de ensino, destacou-se no domínio da Etnografia Portuguesa do século XX, pela importância que atribuiu aos estudos relativos à cultura popular e tradicional no Norte de Portugal, nomeadamente do Minho e do Douro Litoral.





No âmbito da sua actividade etnográfica foi Presidente do Instituto de Etnografia e diretor do Museu de Etnografia e História do Douro Litoral (1960). Destacou-se pela edição da Revista de Etnografia da Junta Distrital do Porto, editada de 1963 a 1972, uma das mais prestigiosas publicações científicas de Etnografia à época em Portugal, que contou com contributos de consagrados especialistas nacionais e internacionais. Foi responsável pela organização de Congressos de Etnografia, entre os quais se destacam, o I Congresso Nacional de Etnografia e Folclore (1956, Braga), Colóquio Internacional de Estudos Etnográficos Dr. José Leite de Vasconcelos (1858, Porto), Colóquio Internacional de Etnografia (1963, Santo Tirso) e o Colóquio Internacional de Estudos Etnográficos Rocha Peixoto (1966, Póvoa do Varzim).





Tendo efectuado um trabalho de pesquisa e estudo bastante extenso e variado, conciliou as suas áreas de conhecimento, privilegiando o estudo da medicina popular. Neste campo de investigação foi autor das obras Medicina Popular Minhota (em colaboração com Alexandre Lima Carneiro) e A Medicina Popular em S. Simão de Novais, em 1931. Desenvolveu funções como diretor das publicações Biblioteca Popular, A Virgem em Portugal e do Arquivo de Medicina Popular (edição do Jornal Médico, no Porto, compilado em dois volumes orientados por Pires de Lima e Mendes Correia, em 1944 e 45).

A produção etnográfica de F. C. Pires de Lima considerou igualmente outros domínios de investigação como a hagiografia popular, as tradições e expressões orais, reproduzindo nas suas obras o registo das formas de narrativa popular que recolheu, tais como, o romanceiro, cancioneiro, contos e lendas. Foi autor de Tradições populares de Entre-Douro-e-Minho (1938), em colaboração com Joaquim Pires de Lima; O Vinho Verde nas cantigas populares (1939), com colaboração de D. Maria Clementina Pires de Lima; S. João na alma do povo (1944). Publicou o Cancioneiro de São Novais, na revista Guimarães (1922 a 1929), compilando cerca de mil quadras populares que foram posteriormente publicadas, em 1942, na sua obra Cantares do Minho (2 vols.), incluindo também o Cancioneiro de Celorico de Basto (anteriormente publicado em 1935, na revista Trabalhos de Antropologia e Etnologia) e o Adagiário Português (1963).

Os seus interesses no âmbito da Etnografia alargaram-se a outros territórios de investigação, designadamente às ex-colónias portuguesas, consagrando a estes territórios diversos artigos no Boletim Geral das Colónias. Das suas obras mais representativas, destaca-se o estudo sobre A Arte Popular em Portugal: ilhas adjacentes e ultramar, publicado em 3 volumes, de 1968 a 1975, publicada com o Alto Patrocínio da Junta de Investigação do Ultramar e da Agência Geral do Ultramar.

Do "Cancioneiro de S. Simão de Novais"



 
"Cancioneiro de S. Simão de Novais" (1ª e 2ª Series) "Revista de Guimarães"
(1922-23) (1924-29)  
Fernando Castro Pires de Lima

  

Minha mãe case-me cedo                                  Minha mãe case-me cedo                     
Que a causa bem sabe                                       Enquanto sou rapariga
O dado são quinze anos                                     O milho sachado tarde 
…E eu já tenho dezasseis                                  Nem dá palha nem espiga



 O primeiro amor que tive                                 Minha mãe quando me teve
 Era filho dum doceiro                                       Cuidava quer estava rica
 Os dentinhos tinha-os podres                          Depois queria-me matar
 Na boquinha um mau cheiro                            Com remédios da botica


Se eu soubera quem tu eras                           A oliveira do adro
E quem tu vinhas a dar                                     Ramo dela tem virtude
Mandava vir da farmácia                                  Passei por ela doente
Remédio p,ra te matar                                      E logo tive saúde


Vou-me embora do meu amo                           Mandaste-me cegar a erva          
Não lhe devo nenhum dia                                 Lá no campo da amargura                    
Antes me ele deve a mim                                 Se fizer uma ferida
As noites que eu não dormia                           Morro e não tenho cura

 
Vou-me embora do meu amo                          Não quero amor pedreiro        
Não lhe devo nenhum dia                                 Que atira as pedras ao ar      
Antes me ele deve a mim                                Quero amor carpinteiro
As noites que eu não dormia                          Que me dá lenha pró lar

É um regalo na vida                                         Eu tenho quatro amores
Cá na terra pastorar                                        Dois de manhã,dois de tarde;
Quem tem sede. vai beber                             A todos digo sim
 Quem tem calma, vai nadar                          Só a um falo verdade.






O Que Era Uma Carpideira?



Nos tempos dos nossos antepassados existia uma profissão chamada Carpideira que consistia em chorar para um morto em troca de dinheiro.
A carpideira era uma profissional feminina cuja função consistia em chorar para um defunto alheio. 


 Era feito um acordo monetário entre a carpideira e os familiares do defunto, a carpideira chorava e mostrava seus prantos sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade.

O principal objetivo era levar os participantes no velório ao choro e lamento, mesmo que o defunto não merecesse.