segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Verdades que devem ser ditas



Terminámos a época dos festejos locais e parece-me importante falar no assunto e quero deixar claro que não me refiro a ninguém em especial, porque muitas são as situações que se enquadram no nosso lamento, que tem a ver com os “grupos de folclore” nas festas populares. Porque se até hoje e já em democracia nenhum Governo conseguiu - ou não quis - (o que será mais grave) encarar o folclore na sua devida dimensão e com o respeito a que o mesmo tem direito. Também os respectivos grupos, nos sítios por onde passam, nem sempre são tratados com a devida consideração, nomeadamente nas festas ditas populares, que, de uma maneira geral, merecem todo o apoio e com as quais os mesmos deviam coabitar.
  Um som de qualidade e um palco em condições é o mínimo que um grupo deve exigir, quando até não vai ganhar uma coisa significante e muitas vezes oferecem-nos uma perna de frango como lanche. E um dos males talvez seja esse, o não ir ganhar uma coisa significante, já que no nosso país se cultiva o princípio de que se é barato não presta.
Um cantor famoso não é melhor nem pior do que um grupo de folclore, pois são coisas diferentes que ocupam espaços diferentes, para além de auferir alguns milhares de euros que nem estão em consonância com o país que somos, EXIGE um palco com determinadas dimensões e naturalmente coberto, é capaz de escolher as ementas das refeições, pedir umas tantas garrafas disto e daquilo e o mais que considerar necessário. Quanto a um grupo de folclore, é diferente e aqui as comissões de festas nem nisso terão pensado, não o farão por mal. São os próprios grupos que ainda não fizeram sentir que também têm dignidade e que para tudo há regras.

 



Já viram por exemplo o que é estar a actuar, começar a chover e não poder ocupar, logo a li ao lado, um palco coberto, porque está destinado ao artista fulano de tal? Já pensaram o que é os bailadores terem que se descalçar por que o piso é escorregadio e depois encherem os pés de lascas ou de buracos de pregos? Ou chegar a uma cidade ou outro local e encontrar um palco com medidas pouco adequadas e que por vezes nem cabem lá todos os componentes do grupo? Eu sei que a não autonomia económica cria uma dependência que constitui uma barreira enorme, o que já por uma ou duas vezes, reconheçamos, nos levou a cometer também estes absurdos que estamos a condenar. Mas aqui, e de qualquer modo somos nós, “grupos de folclore”, que temos a culpa ao não saber dizer NÃO na altura devida. Certo que no meio de tudo isto ainda se luta contra a intromissão de alguns pseudo-grupos, ou melhor “ranchetas”, que  se oferecem para ir  a festas e outros eventos sem qualquer remuneração e  que até vendem a alma ao diabo para aparecerem em determinados sítios. Por tudo isto temos de ter a ousadia de dizer não e reivindicar dos governantes mais apoios que temos direito, pois somos parte integrante da cultura deste pais e a nossa constituição reconhece-nos esse direito, eis uma parte dos deveres da Secretaria de Estado da Cultura.

 Assegurar a gestão administrativa e financeira do Fundo de Fomento Cultural.

(Nota; Este Fundo de Fomento Cultural estabelece os seguintes deveres da secretaria de Estado da Cultura.)

 Prestar apoio financeiro às atividades de promoção e difusão dos diversos ramos da cultura;

Subvencionar acções de defesa, conservação e valorização dos bens culturais.

Subsidiar a realização de congressos, conferências, reuniões, missões e outras iniciativas de natureza cultural, assim como a participação em manifestações semelhantes que tenham lugar no estrangeiro.

Custear a divulgação, interna ou externa, dos programas e realizações culturais e artísticas.

Financiar estudos e investigações de carácter cultural.

Conceder subsídios e bolsas para outros fins de acção cultural.

Acho que me fiz compreender.
                                                    
  Manuel Abreu Castro

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