Caros amigos vou aqui explanar uma opinião minha e
enriquecida com ajuda de alguns amigos, pois é fruto de um debate que tivemos
sobre a temática do folclore, é um pouco longa mas desde já peço a máxima
desculpa pois só a publicando na íntegra teria sentido.
Actualmente o folclore está e bem estabelecido e é
reconhecido como uma ciência, a ponto de tornar seu objecto, a cultura popular
ou folclore deveria ser instrumento de educação nas escolas e um bem protegido
genericamente pela UNESCO e especificamente por muitos países, que inseriram
muitos de seus elementos constituintes em seus elencos de bens de património
histórico e artístico a serem protegidos e fomentados.
O folclore não é,
como se pensa, uma simples colecção de fatos disparatados e mais ou menos
curiosos e divertidos; é uma ciência sintética que se ocupa especialmente dos
camponeses e da vida rural e daquilo que ainda subsiste de tradicional nos
meios industriais e urbanos. O folclore liga-se assim à economia política, à
história das instituições à do direito à da arte à tecnologia, etc., sem
entretanto confundir-se com estas disciplinas que estudam os fatos em si mesmos
de preferência à sua reacção sobre os meios nos quais evoluem.
Um outro processo a merecer atenção é o da espetaculização
das manifestações folclóricas pela pressão dos meios de comunicação de massa e
do turismo.
Algumas das manifestações tradicionais guardam a natureza de espectáculos,
que têm sido levados à exacerbação, convertendo-se em produto da cultura de
massas.
Diante desse quadro, torna-se necessária uma nova postura
liberada dos preconceitos etnocêntricos, a reciclagem das técnicas de pesquisa
em trabalho interdisciplinar com a incorporação das contribuições renovadas das
ciências humanas e das ciências da linguagem, o uso de novas tecnologias e
equipamentos disponíveis.
Por isso, é importante ressaltar esta “obviedade”. Outra
verdade antropológica é que em praticamente toda e qualquer comunidade humana
existem e interagem diversos componentes substantivos - indicadores sociais -
que definem, identificam e constroem a cultura do grupo humano que aí vive.
Folclore é, portanto, a ciência humana e social que estuda
os fatos e as relações, os processos e as realizações de um grupo social-
material, sociais e espirituais, objectivas e subjectivas, orais e escritas -
tradicionais, funcionais e de aceitação colectiva ,integradas à vivência
popular e à dinâmica do cotidiano, resultantes da difusão no tempo e no espaço.
Estas manifestações, também chamadas de cultura popular, coexistem com as formas
de cultura erudita (ou académica) e de massa (ou de consumo), conservando suas
funções histórico-sociais. O artesanato e a medicina caseira, as crenças e superstições,
as gírias e provérbios, as danças e festas populares tradicionais são alguns entre
os incontáveis exemplos, objectos da ciência folclórica. Para que ninguém fique
em dúvida, o Folclore estuda o folclore razão pela qual muitas vezes a mesma
palavra aparece com grafia diferenciada. Para se chegar ao conhecimento sobre o
que é ou não é fato folclórico, devemos analisar alguns aspectos que constituem
suas características primordiais.
O Folclore não é símbolo de pobreza, nem propriedade
particular de uma camada fixa ou predeterminada da população, ainda que seja
entre a parcela da população com menores oportunidades de acesso ao
conhecimento erudito e às informações veiculadas e/ou adquiridas através das
instituições escolares, religiosas e políticas que o encontramos. Este segmento
é que cultiva, mais intensamente, a maioria dos fatos e dos bens folclóricos,
não porque quer, mas de maneira natural e com a mesma razão pela qual os
pássaros cantam.
Como tenho dito, A tradição é o conjunto de fatos e
elementos (materiais, sociais e espirituais) que uma época ou uma geração doa
ou entrega a que lhe sucede para que esta, por sua vez, o retransmita com seus fatos
ou elementos incorporados à sua imediata sucessora. Tradição equivale a
actualidade de fatos ou fenómenos no tempo e no espaço, porque ela é o factor
de identidade - união, carácter, coerência e coesão - de um povo através dos
tempos.
Um fato folclórico é essencialmente um fato tradicional,
isto quer dizer, um fato entregue ou doado de uma geração à outra. O jogo do
"peão" é folclórico não porque nossos avós e pais brincaram, mas
porque nós e nossos filhos brincamos e brincam. Ele é tradicional porque, vindo
do passado, é actual e presente, além de ter uma função social e ser de domínio
público.
Ao contrário da História que é a ciência dos fatos humanos
do passado, o Folclore estuda os fatos tradicionais no presente .
Não existe povo que seja tão miserável que não tenha
tradição, pois é ela que cria, fertiliza, alinhava, reproduz e incorpora os
valores e realizações humanas de uma época. Ritos e costumes, técnicas e
hábitos de trabalho, cantos e lendas, músicas e superstições, danças e jogos,
enfim, todas as áreas da acção humana vivem, se recompõem, se cristalizam, se
transformam, se criam, se difundem, se expandem, no tempo, no espaço e através
da tradição. Os povos que não se conhecem a si mesmos, porque não se estudam,
não se pesquisam, ou não se descobrem, por ignorância, por desinteresse, por
vergonha de suas origens ou por excesso de valorização de valores culturais
importados, nunca terão sua identidade e auto-estima formadas, nunca terão definido
e conhecido sua personalidade e, portanto, jamais serão coerentes, autênticos e
harmónicos.
A criação no folclore
O individual e o colectivo, o anonimato e o popular estão
sempre presentes num fato folclórico. Todos sabemos que toda e qualquer obra tem
um criador, seja ele um cidadão comum, um poeta, um músico, um artesão, etc.
Uma criação (material, social ou espiritual) passando do indivíduo-criador à
sua colectividade, tornar-se-á popular se houver identificação (de função e
aceitação) entre ambos, autor e comunidade.
O valor funcional do folclore
Não se pode entender o Folclore como um conjunto de fatos
gratuitos ou sem função. Tudo que o povo faz, pensa, sente e expressa está
intimamente relacionado e integrado ao seu mundo e ao seu dia-a-dia social,
material e espiritual. Os provérbios e as danças, e as anedotas, o artesanato e
as superstições, os brinquedos e os remédios caseiros, entre outros tantos
fatos, existem, não por existir, por geração espontânea, mas para atender e
responder às necessidades ( intelectual, de lazer, religiosa, mágica, material,
saúde, lúdica, existencial, etc.) de um grupo social local, regional ou nacional.
Ninguém faz uma colher de pau à toa. Todos nós sabemos como fazê-la e para que
serve: mexer doce , além de servir para bater (levemente) na cabeça de alguém;
a gagueira passa com o susto .Assim como a colher de pau, todos os fatos
folclóricos existem para atender a uma função cultural - social, económica ou
espiritual - de um grupo ou de um povo.
É preciso lembrar que o tom dominante de qualquer trabalho
deve ser o presente, seja pela acção, seja pela função. Tudo o que a pessoa
descrever deverá estar acontecendo ou ser usual na época em que o trabalho foi realizado.
As coisas e os fatos passados interessam como elementos de ligação e
reconstrução dos caminhos percorridos pelo tema do passado - de onde e como
veio -ao presente, como está e como se vive hoje. O fato folclórico não é o
ocorrido, mas sempre o que está ocorrendo. Volto a insistir que se dê especial
atenção aos trabalhos sobre Folclore a partir de temas que possam envolver as
pessoas, suas famílias e a comunidade onde vivem e funciona a escola, pois só
assim, praticando, poderemos desmistificar o conceito de Folclore como algo
estranho e distante do universo . Mesmo nas ocasiões em que haja interesse
específico por um folguedo, uma dança ou uma festa, é importante estudá-la e
verificá-la a partir da perspectiva do ambiente familiar e comunitário das pessoas.