Folclore no Mundo
Nos meses em que é a maré alta dos festivais de folclore em
diversos pontos do país, vê-se actuar diversos grupos
estrangeiros, sob a designação de “Povos do Mundo”, “Tradições
do Mundo” e mesmo “Folclore Internacional”. E que para a
generalidade dos assistentes, representam o “folclore lá deles”,
o que não é verdade em relação à maioria, e uma organização
que os apresente deve fazer pedagogia. Isto é, explicar às pessoas
“o projecto de cada grupo”. E este é um assunto que me leva neste
momento a aprofundar o estudo da respectiva matéria.
Em relação
a muitos grupos, vê-se a olho nu que se trata de companhias de
dança,profissionais,inclusivamente com coreógrafo. Aliás,pelo
menos alguns dos que cá estiveram pode-se considerar
“ballet”.
Dizem-me que o conceito de folclore é universal,
mas a interpretação será diferenciada. Aliás,em relação à
vizinha Espanha reuniram-se recentemente as respectivas Federações,
--Portugal e Espanha--e concluíram haver diferenças quanto aos
critérios de interpretação, que aliás já já tinha referido.
Ora vejamos:
A palavra Folclore aparece pela primeira vez, em forma de proposta
para substitui a expressão “antiguidades populares” até então
usada, numa carta enviada por W. S. Thomas em 22 de Agosto de 1846 à
revista The Athenaeum. E aparece através dos vocábulos da língua
inglesa folk e lore (povo e saber) que foram unidos (folclore)
passando a ter o significado de saber tradicional de um povo. Este
termo passou a ser utilizado então para se referir às tradições,
costumes e superstições das classes populares. Posteriormente, o
termo passa a designar toda a cultura nascida principalmente nessas
classes, dando ao folclore o status de história não escrita de um
povo. Em 1878 esta designação é reconhecida internacionalmente.
Mas, como “interpretar” o “saber tradicional de um povo”,e
“história não escrita do mesmo”?
De uma reunião realizada
em Santarém, que juntou a maioria dos “especialistas” e dos
“estudiosos” saiu uma síntese que eu considero de
excelência”
Ora, FOLCLORE é a expressão da vivência das
gentes de antigamente quando a sua maneira natural de ser e de estar
não era ainda tão marcada por influências que lhes chegavam de
fora. em que tais influências eram recebidas, adoptadas e aculturadas
tradicionalizadas, se quisermos. Antes de um tempo em que as mesmas
se tornaram tão intensas e numerosas que elas próprias passaram a
aculturar as vivências locais comunitárias. A alterá-las e
fazê-las desaparecer. Como acontece hoje Influência que não se fez
sentir em todo o lado ao mesmo tempo. Dependendo isso da
temporalidade e ritmo de mudança das diversas sociedades;
naturalmente diferenciado.
Como sabemos então o que é Folclore?
Há quatro situações
que quando em conjunto o determinam: ser popular, ser normalmente de
autor desconhecido, ser tradicional e ser comunitário.
1) ser
popular: ser usado pelo povo. A que o povo, pela dita usança, aculturada ou não, adaptou, e conferiu características marcantes
próprias.
2) ser normalmente de autor desconhecido: claro que
tudo teve um autor, mas grande parte da criação popular é feita de
sucessivas transformações: algumas tão ligeiras que nem se
apercebem. Algumas involuntárias apenas dependendo das
características do utilizador. Dando o exemplo de uma “moda”,
alguém a fez, mas tocador após tocador, cantor após cantor, com as
alterações que involuntariamente foram sendo introduzidas, acabou
por a ir alterando até algumas vezes se transformar numa música
muito diferente: que podemos até não considerar o mesmo padrão.
Contudo, muitas músicas são de origem urbana que o povo vai
adotando e adaptando. Nestas, como aliás nalgumas de criação
local, pode-se ás vezes identificar o autor. São, contudo, casos
raros.
3) ser tradicional: ter passado de geração em geração,
chegando-nos por via oral ou por imitação, fazendo-se como se via
fazer ou ouvia; devendo ainda entender-se como tradicional os
comportamentos, os usos, as vivências, os valores que qualquer grupo
social, relevante culturalmente, utilizou durante o tempo suficiente
para impor a marca local, independentemente da sua origem e
natureza.
4) ser comunitário: pertencer a uma comunidade
cultural significativa e não apenas a uma família ou pessoa. Ser
usada pela totalidade da mesma ou por um grupo social de dimensão
significativa.
e não apenas a uma família ou pessoa. Ser usada
pela totalidade da mesma ou por um grupo social de dimensão
significativa.
Entretanto, como seria a interpretação dos
outros países? Mesmo que fosse igualzinha à nossa, os resultados
seriam diferentes, porque diferentes eram as respectivas vivências.
No entanto que não foi seguido um critério uniforme está o facto
do CIOFF— Conselho Internacional de Festivais de Folclore e Artes
Tradicionais se ver na necessidade de dividir os grupos por três
categorias:autêntico,elaborados e estilizados. No entanto e ao que
me parece o CIOFF considera todas essas categorias como “DE
FOLCLORE”,o que a ser assim está errado. E como o português tem
uma tendência para seguir o que vem de fora e ignorar o que é
nosso…
Não temos a veleidade de interferir em organizações
alheias, temos de respeitar naturalmente os que pensam diferente de
nós,mas em Portugal e trabalha-se em português. Temos os nossos
conceitos pelos quais nos devemos guiar, nada nos pode impor modelos
estrangeiros em especial quando com os mesmos não concordamos.
É um tema em que eu gostava que os companheiros do folclore
pensassem,um tema que merece ser estudado e debatido,e que eu vou
tentar aprofundar através da respectiva fonte..É uma questão
cultural, essencialmente de defesa da “identidade” que nos define
e caracteriza ”
Nota; ) Este texto de opinião é da autoria do senhor Lino Mendes, apenas teve umas pequenas correcções gramaticais.
As fotos foram acrescentadas pelo administrador do blogue .