Só um folclorista entende isso. Eu sou um bailador/a,
tocador/a ou cantador/a e eu mudei algumas saídas com os amigos por ENSAIOS, o
aroma de um perfume pelo SUOR por todo o corpo, noites de festa por uma
ACTUAÇÃO, roupas de moda por um TRAJE REGIONAL, eu não me importei o que tive
de deixar pelo AMOR e a SATISFAÇÃO de dar o meu melhor no PALCO, e eu sei que
os verdadeiros amigos vão entender!
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Os Lenços de Namorados
Os “lenços dos
namorados” existem por todo o País, com maior incidência no Minho, Alentejo e
Açores, sendo no Minho que surge a mais importante recuperação desta arte, como
componente fundamental da cultura popular desta região. Os Lenços de Namorados
apresentam-se como a mais genuína forma poética e artística utilizada pelas
moças do Minho, em idade de casar.
Pensa-se
que a origem dos “lenços de namorados”, também conhecidos como “lenços de
pedidos”, esteja nos lenços senhoris do século XVII e XVIII, e que foram
adaptados pelas mulheres do povo com o fim de conquistar o seu namorado.
Antes de tudo,
estes lenços faziam parte integrante do traje feminino e tinham uma função
fundamentalmente decorativa.
Eram lenços
geralmente de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira. Mas não
é enquanto parte integrante do traje feminino, mas sim de outra função não
menos importante, que lhe vem o nome: “A conquista do Namorado”.
A moça quando
estava próximo da idade de casar fazia o seu lenço bordado a partir de um pano
de linho fino que por ventura possuía ou dum lenço de algodão que adquirira na
feira. O lenço era bordado então, nas longas noites de serão, nos momentos
livres do dia ou aquando do pastoreio do gado, pela rapariga apaixonada que ia
transpondo para o lenço os sentimentos que lhe iam na alma.
A rapariga
usá-lo-ia ao Domingo na trincha da saia ou no bolso do avental; mais tarde
oferecê-lo-ia somente ao rapaz que amava como compromisso de amor, este
passaria a usá-lo ao pescoço, com o nó para a frente, no bolso do casaco do
fato domingueiro, no chapéu ou no cajado com o qual normalmente andava.
Caso a rapariga não fosse correspondida o
lenço voltaria às suas mãos. Se o namorado trocasse de parceira, fazia chegar à
sua antiga pretendida o lenço, fazendo-o acompanhar de todos os objetos que
dela possuía, como cartas e fotografias.
Rica em símbolos
e motivos, os mais utilizados são flores, silvas, cântaros, cruzes, brasões,
passarinhos, pombas, estrelas de Salomão, cestas, corações, chaves, peças
agrícolas, borboletas, peixes, cães, letras, quadras, datas
, coroas, ramos e casais de namorados cobertos ou não com um chapéu-de-chuva.
, coroas, ramos e casais de namorados cobertos ou não com um chapéu-de-chuva.
Outras vezes
estes lenços eram motivo de simples brincadeiras ou troca de palavras. Nas
festas os rapazes tiravam os lenços das raparigas simulando uma ligação
amorosa.
Quando o rapaz já
tinha namorada o facto de simular uma ligação com outra ao roubar-lhe o lenço
era muitas vezes motivo de desavença entre a sua namorada e aquela a quem o
lenço tinha sido roubado.
Desde então,
estes lenços têm refletido inúmeros sentimentos de raparigas casadoiras,
exprimidos através destes símbolos de fidelidade ou devoção religiosa, onde os
erros ortográficos são já uma característica incontornável.
ALGUMAS QUADRAS
Nos lenços dos namorados eram bordadas algumas
quadras amorosas, mas nesses tempos ancestrais a maioria da população não sabia
ler nem escrever por isso haviam sempre erros ortográficos aqui estão algumas quadradas
com os respetivos erros.
Bai lenço da minha mão
Bai currer a freguesia
Bai dar em formações
Da minha sabeduria
E tanceto eu amarte
Como o lenço branco ser
Só deixarei de te amar
Cuando o lenço a cor perder
Coração por coração
Amor num troques o meu
Olha que o meu coração
Sempre foi lial ó teu
Meu Manel bai pró Brasil
Eu tamen bou no Bapor
Gardada no coração
Daquele qué meu amor
Manuel Abreu Castro
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Opiniões sobre designação de Ranchos Folclóricos ou Grupos de Folclore e Etnografia
Os mais
atentos, que em Portugal acompanham e vivem o mundo do folclore, já se terão
apercebido que o mesmo está repleto de novas
ideias, mas pena será que algumas não sejam discutidas com a serenidade
que elas merecem num movimento que ainda se debate com bastantes problemas, pois
sabemos que muita gente que anda no folclore nada sabe sobre o que é folclore e etnografia e nem sequer tentam ou não
querem saber e as novas ideias fazem-lhe confusão. Certo que cada um de
nós é credor do direito de opinião, que, no entanto, não pode ser imposto, mas
que se respeita, se debate e se aceita ou contesta.
Lavadeiras (Rusga de Joane) |
Vamos, pois,
aos factos e apenas aos factos, pois, de certo modo, parafraseando
António Sérgio “as pessoas não se discutem”. E começo por dizer que estou
baralhado e como dizia o povo, das duas, uma, ”ou já não percebo nada disto ou andam a brincar com a gente”.
Se bem percebi, há
agora quem defenda que a diferença é saber destrinçar o folclore e o que é etnografia,
a cultura e o que é recreio e pelo que julgo perceber em
cada um dos nossos ranchos ou grupos coabitam os componentes com motivações
culturais e outros com motivações simplesmente recreativas. Aquando das
deslocações, uns procuram visitar museus e monumentos históricos, enquanto
outros vão refrescar para o Café; uns têm uma “atuação” para levar algo em concreto, enquanto outros têm uma “saída” para trazer qualquer coisa.
Claro que a “saída” de um
“rancho folclórico” é sempre uma
“ação cultural”, pois vai
acontecer um “encontro de culturas”
e sendo de aplaudir que alguns componentes aproveitam o tempo livre para
visitar museus e outros espaços de cultura e outros que procuram o Café. (Não
se pode condenar os que se vão refrescar para o Café, desde que o façam com
dignidade) O momento cultural é a demonstração/ espetáculo, quando os
agrupamentos tentam representar aquilo que as gentes de antigamente faziam no
seu tempo de recreio. No fundo,
digamos que apenas se trata de maneiras diferentes de ver o assunto. Mas o
mesmo já não posso dizer e concordar quando se pretende separar os conceitos de
rancho folclórico e de grupo de folclore, atribuindo ao
primeiro o papel de seguir as modas e divertir o público com aquilo que são
gostos instalados, enquanto ao segundo cabe provocar o aparecimento de novas
mentalidades e bem e surpreender o público, obrigando-o a refletir. Claro que é
a minha opinião sobre factos e
apenas isso e só não fiquei calado, porque o movimento folclórico está cheio de silêncios
que não podem continuar. Para mim, rancho
folclórico e grupo
etnográfico é, por inerência da sua constituição, uma força ao serviço da
investigação da defesa e promoção dos valores patrimoniais da comunidade em que
se insere, no campo específico das vivências e costumes e das tradições orais. Orais
e não só, na medida em que estas se articulam com registos escritos e materiais.
Não precisando na (minha opinião) de mudar a sua designação de rancho
folclórico para grupo etnográfico para ampliar assim os objetivos para uma
descrição atenta das manifestações culturais das populações, a nível regional e
local.
Não sei se
consegui transmitir aquilo que penso e tenho analisado nas mais diversas
opiniões que tenho ouvido, mas se algo errado, desde já as minhas desculpas…
Ora bem, mas
se está correcta esta minha interpretação, fico contente, pois o mundo do
folclore que coabito é o mesmo.
Manuel Abreu
Castro
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