Os mais
atentos, que em Portugal acompanham e vivem o mundo do folclore, já se terão
apercebido que o mesmo está repleto de novas
ideias, mas pena será que algumas não sejam discutidas com a serenidade
que elas merecem num movimento que ainda se debate com bastantes problemas, pois
sabemos que muita gente que anda no folclore nada sabe sobre o que é folclore e etnografia e nem sequer tentam ou não
querem saber e as novas ideias fazem-lhe confusão. Certo que cada um de
nós é credor do direito de opinião, que, no entanto, não pode ser imposto, mas
que se respeita, se debate e se aceita ou contesta.
Lavadeiras (Rusga de Joane) |
Vamos, pois,
aos factos e apenas aos factos, pois, de certo modo, parafraseando
António Sérgio “as pessoas não se discutem”. E começo por dizer que estou
baralhado e como dizia o povo, das duas, uma, ”ou já não percebo nada disto ou andam a brincar com a gente”.
Se bem percebi, há
agora quem defenda que a diferença é saber destrinçar o folclore e o que é etnografia,
a cultura e o que é recreio e pelo que julgo perceber em
cada um dos nossos ranchos ou grupos coabitam os componentes com motivações
culturais e outros com motivações simplesmente recreativas. Aquando das
deslocações, uns procuram visitar museus e monumentos históricos, enquanto
outros vão refrescar para o Café; uns têm uma “atuação” para levar algo em concreto, enquanto outros têm uma “saída” para trazer qualquer coisa.
Claro que a “saída” de um
“rancho folclórico” é sempre uma
“ação cultural”, pois vai
acontecer um “encontro de culturas”
e sendo de aplaudir que alguns componentes aproveitam o tempo livre para
visitar museus e outros espaços de cultura e outros que procuram o Café. (Não
se pode condenar os que se vão refrescar para o Café, desde que o façam com
dignidade) O momento cultural é a demonstração/ espetáculo, quando os
agrupamentos tentam representar aquilo que as gentes de antigamente faziam no
seu tempo de recreio. No fundo,
digamos que apenas se trata de maneiras diferentes de ver o assunto. Mas o
mesmo já não posso dizer e concordar quando se pretende separar os conceitos de
rancho folclórico e de grupo de folclore, atribuindo ao
primeiro o papel de seguir as modas e divertir o público com aquilo que são
gostos instalados, enquanto ao segundo cabe provocar o aparecimento de novas
mentalidades e bem e surpreender o público, obrigando-o a refletir. Claro que é
a minha opinião sobre factos e
apenas isso e só não fiquei calado, porque o movimento folclórico está cheio de silêncios
que não podem continuar. Para mim, rancho
folclórico e grupo
etnográfico é, por inerência da sua constituição, uma força ao serviço da
investigação da defesa e promoção dos valores patrimoniais da comunidade em que
se insere, no campo específico das vivências e costumes e das tradições orais. Orais
e não só, na medida em que estas se articulam com registos escritos e materiais.
Não precisando na (minha opinião) de mudar a sua designação de rancho
folclórico para grupo etnográfico para ampliar assim os objetivos para uma
descrição atenta das manifestações culturais das populações, a nível regional e
local.
Não sei se
consegui transmitir aquilo que penso e tenho analisado nas mais diversas
opiniões que tenho ouvido, mas se algo errado, desde já as minhas desculpas…
Ora bem, mas
se está correcta esta minha interpretação, fico contente, pois o mundo do
folclore que coabito é o mesmo.
Manuel Abreu
Castro
Nenhum comentário:
Postar um comentário