quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Opiniões sobre designação de Ranchos Folclóricos ou Grupos de Folclore e Etnografia



                   Os mais atentos, que em Portugal acompanham e vivem o mundo do folclore, já se terão apercebido que o mesmo está repleto de novas ideias, mas pena será que algumas não sejam discutidas com a serenidade que elas merecem num movimento que ainda se debate com bastantes problemas, pois sabemos que muita gente que anda no folclore nada sabe sobre o que é folclore e etnografia e nem sequer tentam ou não querem saber e as novas ideias fazem-lhe confusão. Certo que cada um de nós é credor do direito de opinião, que, no entanto, não pode ser imposto, mas que se respeita, se debate e se aceita ou contesta.
Lavadeiras (Rusga de Joane)
Pessoalmente, há que dizê-lo, não tenho qualquer dificuldade e quando disso é caso, alterar os meus pontos de vista, da mesma maneira que não consigo calar a minha discordância quando a mesma para mim se justifica
Vamos, pois, aos factos e apenas aos factos, pois, de certo modo, parafraseando António Sérgio “as pessoas não se discutem”. E começo por dizer que estou baralhado e como dizia o povo, das duas, uma, ”ou já não percebo nada disto ou andam a brincar com a gente”.
Se bem percebi, há agora quem defenda que a diferença é saber destrinçar o folclore e o que é etnografia, a cultura e o que é recreio e pelo que julgo perceber em cada um dos nossos ranchos ou grupos coabitam os componentes com motivações culturais e outros com motivações simplesmente recreativas. Aquando das deslocações, uns procuram visitar museus e monumentos históricos, enquanto outros vão refrescar para o Café; uns têm uma “atuação” para levar algo em concreto, enquanto outros têm uma “saída” para trazer qualquer coisa. Claro  que a “saída” de um “rancho folclórico” é sempre uma “ação cultural”, pois vai acontecer um “encontro de culturas” e sendo de aplaudir que alguns componentes aproveitam o tempo livre para visitar museus e outros espaços de cultura e outros que procuram o Café. (Não se pode condenar os que se vão refrescar para o Café, desde que o façam com dignidade) O momento cultural é a demonstração/ espetáculo, quando os agrupamentos tentam representar aquilo que as gentes de antigamente faziam no seu tempo de recreio. No fundo, digamos que apenas se trata de maneiras diferentes de ver o assunto. Mas o mesmo já não posso dizer e concordar quando se pretende separar os conceitos de rancho folclórico e de grupo de folclore, atribuindo ao primeiro o papel de seguir as modas e divertir o público com aquilo que são gostos instalados, enquanto ao segundo cabe provocar o aparecimento de novas mentalidades e bem e surpreender o público, obrigando-o a refletir. Claro que é a minha opinião sobre factos e apenas isso e só não fiquei calado, porque o movimento folclórico está cheio de silêncios que não podem continuar. Para mim, rancho folclórico e grupo etnográfico é, por inerência da sua constituição, uma força ao serviço da investigação da defesa e promoção dos valores patrimoniais da comunidade em que se insere, no campo específico das vivências e costumes e das tradições orais. Orais e não só, na medida em que estas se articulam com registos escritos e materiais. Não precisando na (minha opinião) de mudar a sua designação de rancho folclórico para grupo etnográfico para ampliar assim os objetivos para uma descrição atenta das manifestações culturais das populações, a nível regional e local.
Não sei se consegui transmitir aquilo que penso e tenho analisado nas mais diversas opiniões que tenho ouvido, mas se algo errado, desde já as minhas desculpas…
Ora bem, mas se está correcta esta minha interpretação, fico contente, pois o mundo do folclore que coabito é o mesmo.
                                                      Manuel Abreu Castro

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