Não existe grupo ou rancho folclórico que não organize, pelo
menos uma vez ao longo do ano, um espectáculo geralmente a comemorar o
aniversário da sua fundação e a que em regra identificam como sendo um
“festival de folclore”. Desse modo, realizam-se um pouco por todo o país várias
centenas, ascendendo porventura a mais de um milhar a quantidade de festivais de
folclore, ainda que a esmagadora maioria não conte com a participação de mais
dois ou três grupos além do anfitrião e, nem sempre representativos do folclore
e etnografia.
Na realidade, os ditos festivais de folclore não são mais do
que espectáculos de dança folclórica, nos quais, todos os grupos procuram
invariavelmente mostrar as danças da sua região de proveniência, resumindo a
tais exibições o riquíssimo património etnográfico do povo português. Em regra,
os organizadores dos ditos festivais excluem da sua programação cante
alentejano, colocando de parte a representação do Alentejo. Por seu turno, dada
a sua especificidade, os grupos corais alentejanos tendem a promover encontros
onde apenas a sua tradição marca presença, esquecendo-se de que a diversidade
constitui uma das características do folclore.
As entidades organizadoras dos referidos festivais revelam
pouca criatividade na organização dos seus espectáculos, limitando-se, na
maioria dos casos, a reproduzir aquilo a que assistiram algures noutra
localidade, da mesma forma que, em vez de se esforçarem por documentarem a sua
própria representação, os seus trajes e o reportório, preferem frequentemente
copiar sem critério aquilo que outros grupos fazem, apenas porque se tornaram
famosos por algum motivo, sem se preocuparem de que o que imitam está realmente
correto.
Apelar de festival de folclore um espectáculo de dança com a
actuação de dois ou três grupos, deixando permanentemente de parte a
representação de várias regiões do país e de certas comunidades, é, no mínimo,
pretensioso. Com vista à valorização do folclore e da sua própria organização,
tais entidades devem repensar os modelos a seguir, enriquecendo a sua
programação e, eventualmente, fazendo-a coincidir com o calendário agrícola.
Nas áreas urbanas, deve ter-se em consideração a constituição demográfica das
localidades de modo a conquistar público para assistir ao espectáculo. E,
sobretudo, importa acabar com a barreira artificial que, nos espectáculos de
folclore, separa os grupos de dança dos corais alentejanos.
O folclore dispõe de matéria-prima suficiente para se
produzir um espectáculo de grande qualidade, capaz de interessar largos sectores
do público. Mau grado as tentativas de o tornar mais atraente com a introdução
de pequenos quadros teatrais, o actual figurino está demasiado visto e
ultrapassado, não se revelando capaz de atrair mais público para além daquele
que o segue com espírito missionário.
Carlos Gomes (Jornalista, Licenciado em História)
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