quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Festivais de Folclore: É urgente repensar o modelo de organização!




Não existe grupo ou rancho folclórico que não organize, pelo menos uma vez ao longo do ano, um espectáculo geralmente a comemorar o aniversário da sua fundação e a que em regra identificam como sendo um “festival de folclore”. Desse modo, realizam-se um pouco por todo o país várias centenas, ascendendo porventura a mais de um milhar a quantidade de festivais de folclore, ainda que a esmagadora maioria não conte com a participação de mais dois ou três grupos além do anfitrião e, nem sempre representativos do folclore e etnografia.

Na realidade, os ditos festivais de folclore não são mais do que espectáculos de dança folclórica, nos quais, todos os grupos procuram invariavelmente mostrar as danças da sua região de proveniência, resumindo a tais exibições o riquíssimo património etnográfico do povo português. Em regra, os organizadores dos ditos festivais excluem da sua programação cante alentejano, colocando de parte a representação do Alentejo. Por seu turno, dada a sua especificidade, os grupos corais alentejanos tendem a promover encontros onde apenas a sua tradição marca presença, esquecendo-se de que a diversidade constitui uma das características do folclore.

As entidades organizadoras dos referidos festivais revelam pouca criatividade na organização dos seus espectáculos, limitando-se, na maioria dos casos, a reproduzir aquilo a que assistiram algures noutra localidade, da mesma forma que, em vez de se esforçarem por documentarem a sua própria representação, os seus trajes e o reportório, preferem frequentemente copiar sem critério aquilo que outros grupos fazem, apenas porque se tornaram famosos por algum motivo, sem se preocuparem de que o que imitam está realmente correto.

Apelar de festival de folclore um espectáculo de dança com a actuação de dois ou três grupos, deixando permanentemente de parte a representação de várias regiões do país e de certas comunidades, é, no mínimo, pretensioso. Com vista à valorização do folclore e da sua própria organização, tais entidades devem repensar os modelos a seguir, enriquecendo a sua programação e, eventualmente, fazendo-a coincidir com o calendário agrícola. Nas áreas urbanas, deve ter-se em consideração a constituição demográfica das localidades de modo a conquistar público para assistir ao espectáculo. E, sobretudo, importa acabar com a barreira artificial que, nos espectáculos de folclore, separa os grupos de dança dos corais alentejanos.

O folclore dispõe de matéria-prima suficiente para se produzir um espectáculo de grande qualidade, capaz de interessar largos sectores do público. Mau grado as tentativas de o tornar mais atraente com a introdução de pequenos quadros teatrais, o actual figurino está demasiado visto e ultrapassado, não se revelando capaz de atrair mais público para além daquele que o segue com espírito missionário.

Carlos Gomes (Jornalista, Licenciado em História)          

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