Desde que o Homem sentiu a necessidade de se cobrir e
agasalhar, começou a partir de folhagem e peles de animais por criar as peças
de vestuário de que necessitava. Caso pretendêssemos recuar a esse tempo na
reconstituição dos usos e costumes dos nossos ancestrais, esse seria certamente
o primeiro traje que nos caberia reproduzir. Porém, à medida que as sociedades
humanas evoluíram, foram surgindo novos hábitos e o vestuário deixou de
constituir apenas uma necessidade básica para se tornar um meio de afirmação
pessoal no contexto da sociedade como de comunicação.
O traje acompanhou a evolução da sociedade através dos
tempos e a moda tornou-se uma indústria altamente rentável. Se o advento da era
industrial trouxe consigo a produção em escala e o pronto-a-vestir que teve
como consequência a uniformização do modo de vestir em detrimento dos costumes
locais, a chamada alta-costura procura actualmente satisfazer a necessidade de
uma classe endinheirada que exige a produção de uma moda individualizada. Os
criadores de moda, não raras as vezes inspirados em motivos étnicos, dão voltas
à cabeça para conceber uma nova peça de vestuário, por vezes tão arrojada
quanto o grau de loucura de quem a encomenda. Contudo, se o cliente se atrever
a usar o vestuário de maneira inapropriada ou descontextualizada, corre o sério
risco de ser-lhe diagnosticado um comportamento esquizofrénico. Ninguém imagina
certamente um agricultor, de fato e gravata, lavrando a terra ou um professor
vestindo pijama na sala de aulas.
Vem isto a propósito do uso que é dado ao chamado lenço
tabaqueiro o qual, não raras as vezes, apresenta-se enrolado ao pescoço dos
componentes masculinos de alguns grupos folclóricos. Outros, porém, em meu
entender de forma mais apropriada, optam por exibi-lo à cinta ou no bolso.
Como era usado o lenço tabaqueiro
O lenço tabaqueiro surgiu entre nós, como um acessório, no início do século XVII, em consequência directa do consumo do tabaco, hábito trazido pelos espanhóis do continente americano. O tabaco era consumido pelos povos indígenas que acreditavam nos seus poderes medicinais, razão pela qual o consumiam em ocasiões cerimoniais. Uma vez introduzido na Europa, o tabaco era mascado ou aspirado sob a forma de rapé, tornando-se um hábito social que perdurou até aos finais do século XIX, altura em que se começou a generalizar o consumo do tabaco sob a forma de cigarros.
O consumo do rapé consistia em levar o tabaco em pó às
narinas a fim de ser fortemente aspirado, gesto que invariavelmente provocava o
espirro ou o pingo no nariz, sendo então considerado um óptimo estimulante
nasal. Esta reacção requeria naturalmente o uso de um pano, geralmente de
algodão, para efeitos de higiene pessoal, o qual era então colocado à cinta ou
pendurado no bolso. Com o tempo, o rapé entrou em desuso e o lenço, por razões
de decoro, passou a ser dobrado e guardado no bolso.
Nota; (Há também teorias que dizem que o lenço também
servia para guardar da melhor forma o rapé no bolso.)
Este nada tem a
ver com o costume entretanto surgido do uso de um lenço de seda ao pescoço, o
qual se apresenta em substituição da secular gravata, nem tão pouco o lenço de
cabeça outrora utilizado pelas mulheres.
Nota; Achei este artigo do meu amigo Dr. Carlos Gomes, muito
interessante e como tal resolvi publica-lo novamente, por isso peço ao meu
amigo as máximas desculpas de o fazer sem sua autorização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário