Já por diversas ocasiões fiz saber que não sou versado em
nada no que diz respeito a estes assuntos intrinsecamente ligados à
Antropologia Cultural (bem que gostaria), somente empresto a minha
disponibilidade, querer e paixão por tudo o que tenha a ver com a história
recente do nosso povo em geral e da minha comunidade em particular. Portanto,
quem com conhecimentos comprovados de causa me queira interpelar e emendar por
alguma coisa mal dita ou menos assertiva, faça o obséquio.
Faz-me uma confusão tremenda – palavra que faz – a constante
“guerra surda” travada no seio da comunidade que se dedica ao estudo,
preservação e representação das tradições populares, entre o “Folclórico” e o
“Etnográfico”, mais concretamente os grupos/ranchos folclóricos, os grupos/ranchos
etnográficos e também aqueles que se auto-intitulam de etnográficos e
folclóricos simultaneamente. Quer-me parecer que essa mesma confusão é
transversal a uma grande maioria das pessoas do movimento, embora não o
admitam. Eu tenho uma opinião formada sobre o assunto, contudo antes de a
emitir gostaria de deixar aqui bem explicito as definições de ambas as
palavras, transcrevendo sucintamente um apanhado de alguns estudiosos do ramo:
Folclore é o conjunto de tradições e manifestações populares
constituído por crenças e superstições, lendas, contos, provérbios, canções,
danças, artesanato, jogos, religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas
e dialectos característicos, adivinhações, festas e outras actividades
culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo. A palavra de origem
inglesa é formada pela junção de folk (povo) e lore (sabedoria ou
conhecimento). O folclore simboliza a cultura popular e apresenta grande
importância na identidade de um povo, de uma nação. Para não se perder a tradição
folclórica, é importante que as manifestações culturais sejam transmitidas
através das gerações.
Etnografia é o estudo descritivo da cultura dos povos, sua
língua, raça, religião, hábitos etc., como também das manifestações materiais
de suas actividades. É a ciência das etnias. Do grego ethos (cultura) + graphe
(escrita). A etnografia estuda e revela os costumes, as crenças e as tradições
de uma sociedade, que são transmitidas de geração em geração e que permitem a
continuidade de uma determinada cultura ou de um sistema social.
Direi então em jeito de resumo e muito sumariamente, que, o
Folclore é um conjunto de tradições populares e a Etnografia o estudo dessas
mesmas tradições.
Bom, então em que patamar ficamos na discussão? É mais
indicado acrescentar o “Folclórico” ao nosso conceito de grupo, ou por outro
lado o “Etnográfico" assenta melhor?
Respondendo ao anseio de muitos dos nossos amigos sobre
aquilo que melhor lhe convém, acho que muita gente faz a distinção entre uma
coisa e outra definindo os grupos da seguinte forma: Folclóricos são todos os
grupos que se apresentam de alguma maneira “despidos” de qualquer adereço que
vá para além do hábito de cada um dos seus elementos, fazendo por assim dizer,
uma apresentação baseada unicamente nas áreas da melodia, canto e dança. Por
conseguinte consideram etnográficos, todos os grupos que se façam acompanhar
dos tais adereços da sua vida quotidiana onde se incluem os artefactos de
trabalho e de índole pessoal. Volto a repetir para que não me apontem o dedo em
riste, que esta é uma opinião generalizada da malta do folclore, enquanto as
definições que atrás apresentei (Folclore e Etnografia) não são da minha
autoria, são definições avulsas nos diversos sites que qualquer um pode
livremente consultar.
A minha visão de um grupo representativo das tradições e
vivências dos seus antecessores é abrangente, na medida que deve englobar todas
as vertentes possíveis no mesmo quadro a apresentar em determinada iniciativa.
Ao visionarmos aquele conjunto que temos ali à nossa frente, devemos conseguir
entrar no mundo que cada personagem nos dá a entender, sem dificuldade de
maior. Se temos ali uma personagem que representa a figura de um pescador por
ex, devemos para além das vestes que usualmente utilizava, apresentar alguns
dos objectos que facilmente identificamos como pertencentes àquele mundo que facilmente
imaginámos. Devemos encontrar uma pessoa que saiba encarnar minimamente a
personagem que representa.
Ao observarmos aquele grupo, será desejável encontrar as
várias personagens que coabitavam num determinado espaço físico e temporal da
história de uma identificada comunidade, uma representação da sociedade da
época, com a sua diversidade e complementaridade social, as suas valências, as
suas diferenças. Devemos observar um grupo que se saiba posicionar e ocupar os
espaços convenientemente de forma sóbria e racional. Concluindo, o folclórico e
o etnográfico complementam-se, entrelaçam-se e são indissociáveis. Portanto e
por tudo o que até aqui argumentei, aceito melhor a designação de “Folclórico”
em detrimento do “Etnográfico”, se bem que o conceito está um pouco esbatido e
gasto pela péssima utilização a que tem estado sujeito nos últimos anos.
Texto de opinião de; Custódio Rodrigues
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