quinta-feira, 28 de maio de 2015

O Folclore e os Apoios



Quando se diz que o Folclore é o parente pobre da cultura portuguesa, não se está a conjecturar ou a fazer demagogia, é verdade mesmo. Quando se afirma que os agentes do Folclore têm que se socorrer de todos os meios ao seu dispor para sobreviver, incluindo práticas e actividades nada consentâneas com aquela área da cultura popular tradicional, não é nenhuma utopia e não se está a cometer nenhuma falácia, é a mais pura das verdades, estes agentes pagam para manter viva a identidade do seu povo. Às uns tempos atrás estive em Paris e já tinha estado em outros países e ai constatei ao vivo a importância que os grupos de folclore tem nas comunidades de imigrantes portugueses espalhadas pelo mundo.

Os grupos  de folclore são o veiculo de transmissão para que os filhos dos imigrantes nascidos fora do nosso pais não percam os laços que ainda os prendem ao nosso pais, mas é com tristeza que todos os que fazem parte do movimento folclórico constatam com alheamento que a secretaria de estado da cultura tem para com os grupos de folclore, constatamos que os governos através dos organismos próprios não dão qualquer apoio logístico ou monetário, pondo os grupos a pagar a expensas próprias tudo, para poder levar a esses imigrantes os usos e costumes e tradições dos seus antepassados é pena mas é os governantes que temos tido, se calhar não interessa aos nossos governantes manter viva essa identidade, pois um povo sem identidade onde se reveja, será mais fácil de manipular e espartilhar ao sabor dos grandes interesses económicos. 


Mas não nos podemos esquecer aquilo que ouvimos da boca do povo “quem esquece o seu passado não tem futuro” é bem verdade. Os países mais desenvolvidos da Europa descobriram que apesar de criarem as condições ideais de vida aos seus cidadãos, estes não eram totalmente felizes, faltava-lhes algo que abdicaram há muito, em prol desse mesmo desenvolvimento industrial e tecnológico, a sua identidade cultural, enquanto povo, enquanto nação soberana! Faltava-lhes algo que perderam e não é recuperável, as suas raízes. Por isso, quando nos visitam procuram beber a essência do espaço que admiram e tanto prazer lhes oferece. Para além das belezas naturais como a praia e o sol, eles absorvem com sofreguidão a gastronomia regional, o folclore, a naturalidade dos residentes, que ainda e apesar de alguma modernidade instalada, é genuína. Eles adoram o nosso país por isso meus amigos, "isso" não tem preço. Pobre do País em que os seus governantes não dão a atenção devida para as várias vertentes da sua Cultura, onde, o Folclore, a Etnografia e a Etnologia são factores identitários de presença no mundo enquanto nação. 


Por isso se diz o movimento Folclórico/Etnográfico" é o parente pobre da cultura portuguesa”, não fora ainda a consideração de algumas autarquias porque os seus eleitos são maioritariamente locais e tem outra sensibilidade (os que tem) e lá vão distribuindo umas migalhas pelos grupos de folclore com a cedência de transporte gratuito ou a preço reduzido e outros apoios avulsos juntando-lhes a carolice e imaginação dos dirigentes e restantes componentes dos grupos, caso contrário à muito que o movimento estava reduzido a uns quantos sobreviventes, tenho esperança (temos sempre esperança) que as coisas mudem para melhor, mas se assistimos à derrocada de instituições, organizações, valores que suportam uma Nação, o que é que vamos esperar no futuro? Resta-nos a nós que gostamos e defendemos o movimento folclórico arregaçar as mangas e continuar a luta a cada dia da nossa existência.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

A Ausência de um Ambiente Propício a um Excelente Espectáculo de Folclore !



É consensual que a existência de muitas horas entre a chegada dos grupos ao local do espectáculo ou ao sítio pré-definido pelo grupo anfitrião e o espectáculo propriamente dito, é extremamente doloroso para os componentes dos grupos convidados e já não estou a referir-me à barbaridade de obrigarem as pessoas a andarem trajadas uma série de horas seguidas, numa época onde o calor se faz sentir intensamente. São importantíssimas as infra-estruturas de apoio como os palcos/tabuados, equipamentos de som e as condições de acondicionamento e conforto do público. Mas meus amigos, é de uma importância extrema o espaço físico onde se realiza o espectáculo. 

Desculpem-me a ousadia, mas não faz qualquer sentido montar um palco no meio de um pavilhão, campo de futebol e/ou outros espaços de grande dimensão, e colocar o público a 30/40/50 e às vezes mais metros de distância do objecto da sua presença no local. Podemos até ter ali um fantástico tabuado e condições de som fantásticas, uma recepção e jantar extraordinários aos grupos participantes, mas se não criar um ambiente para que o evento seja sublime, pufff! Tudo o resto não serviu de nada. Tem que existir uma empatia entre o público e o artista, uma ligação só possível pelo contacto de proximidade. O público gosta de vibrar com aquilo que vê e sente, os artistas sentem-se compensados com o afecto e carinho advindo do reconhecimento pelo seu desempenho, portanto...


Não aceito que se diga que nem todos têm as mesmas condições para fazer isto ou aquilo, neste caso não, porque é nas coisas mais simples que encontramos o maior encanto. Às vezes não é necessário muito dinheiro para elaborar um espaço para um festival de folclore, que pode muito bem decorrer por ex. numa qualquer rua de uma das nossas típicas aldeias, naquele larguito de casas caiadas a cal, de chão empedrado... Numa eira comunitária onde se malhavam os cereais... Num... Na... !!! Haja imaginação e deixemo-nos de formatos fora de moda, coisas sem sentido, para bem do folclore. O movimento que nos une é de FOLCLORE e não de Faclore ou Foclor.

Não me estou a referir como é óbvio a nenhum evento em particular, pois é do vosso conhecimento que aquilo que mencionei é o pão nosso de cada dia no folclore.


       Artigo de opinião de ; Custódio Rodrigues