Quando se diz que o Folclore é o parente pobre da cultura
portuguesa, não se está a conjecturar ou a fazer demagogia, é verdade mesmo.
Quando se afirma que os agentes do Folclore têm que se socorrer de todos os
meios ao seu dispor para sobreviver, incluindo práticas e actividades nada
consentâneas com aquela área da cultura popular tradicional, não é nenhuma
utopia e não se está a cometer nenhuma falácia, é a mais pura das verdades,
estes agentes pagam para manter viva a identidade do seu povo. Às uns tempos
atrás estive em Paris e já tinha estado em outros países e ai constatei ao vivo
a importância que os grupos de folclore tem nas comunidades de imigrantes
portugueses espalhadas pelo mundo.
Os grupos de folclore são o veiculo de transmissão
para que os filhos dos imigrantes nascidos fora do nosso pais não percam os
laços que ainda os prendem ao nosso pais, mas é com tristeza que todos os que
fazem parte do movimento folclórico constatam com alheamento que a secretaria
de estado da cultura tem para com os grupos de folclore, constatamos que os
governos através dos organismos próprios não dão qualquer apoio logístico ou
monetário, pondo os grupos a pagar a expensas próprias tudo, para poder levar a
esses imigrantes os usos e costumes e tradições dos seus antepassados é pena
mas é os governantes que temos tido, se calhar não interessa aos nossos
governantes manter viva essa identidade, pois um povo sem identidade onde se
reveja, será mais fácil de manipular e espartilhar ao sabor dos grandes
interesses económicos.
Mas não nos podemos esquecer aquilo que ouvimos da boca
do povo “quem esquece o seu passado não tem futuro” é bem verdade. Os países
mais desenvolvidos da Europa descobriram que apesar de criarem as condições ideais
de vida aos seus cidadãos, estes não eram totalmente felizes, faltava-lhes algo
que abdicaram há muito, em prol desse mesmo desenvolvimento industrial e
tecnológico, a sua identidade cultural, enquanto povo, enquanto nação soberana!
Faltava-lhes algo que perderam e não é recuperável, as suas raízes. Por isso,
quando nos visitam procuram beber a essência do espaço que admiram e tanto
prazer lhes oferece. Para além das belezas naturais como a praia e o sol, eles
absorvem com sofreguidão a gastronomia regional, o folclore, a naturalidade dos
residentes, que ainda e apesar de alguma modernidade instalada, é genuína. Eles
adoram o nosso país por isso meus amigos, "isso" não tem preço. Pobre
do País em que os seus governantes não dão a atenção devida para as várias
vertentes da sua Cultura, onde, o Folclore, a Etnografia e a Etnologia são factores
identitários de presença no mundo enquanto nação.
Por isso se diz o movimento
Folclórico/Etnográfico" é o parente pobre da cultura portuguesa”, não fora
ainda a consideração de algumas autarquias porque os seus eleitos são
maioritariamente locais e tem outra sensibilidade (os que tem) e lá vão
distribuindo umas migalhas pelos grupos de folclore com a cedência de
transporte gratuito ou a preço reduzido e outros apoios avulsos juntando-lhes a
carolice e imaginação dos dirigentes e restantes componentes dos grupos, caso
contrário à muito que o movimento estava reduzido a uns quantos sobreviventes, tenho
esperança (temos sempre esperança) que as coisas mudem para melhor, mas se
assistimos à derrocada de instituições, organizações, valores que suportam uma
Nação, o que é que vamos esperar no futuro? Resta-nos a nós que gostamos e
defendemos o movimento folclórico arregaçar as mangas e continuar a luta a cada
dia da nossa existência.