A
palavra folclore é uma daquelas palavras que instiga os mais
diversos sentimentos. Para uns é sinónimo de cultura histórica de
um povo e de sabedoria popular, para outros, serve apenas para
descrever uma situação ridícula, de floreados duvidosos, sempre
com uma tonalidade de escárnio e mal dizer.
Poderia
divagar sobre a etimologia da palavra mas penso que isso não
serviria de muito. O dicionário diz-nos os sinónimos das palavras
mas não nos ajuda na aplicação certa das palavras, essa caberá́
somente a cada um. Penso que a verdadeira base da distinção da
utilização da palavra “folclore” fundamenta-se num só
conceito: cultura ou falta dela.Com bastante regularidade ouvimos
dizer “aquele debate mais não foi do que um folclore” ou “eles
fazem daquilo um folclore”... mas saberão na realidade o que é
“um folclore”? Ou limitam-se a assumir que “mais um folclore”
é apenas mais uma “fantochada” ou “invenção”, uma
situação ridícula? É esta a imagem que grande parte dos
portugueses têm do folclore? Apenas “o ridículo”? Eu prefiro
acreditar que não. Apesar de tudo, prefiro acreditar que há ainda
um grande grupo de pessoas que sabe que folclore é mais do que uma
palavra utilizada negativamente, mas sim, a raiz de um povo, a sua
história, os saberes dos seus antepassados hoje reproduzidos com
mais ou menos fidelidade.
Honestamente
penso que este raciocino não está acessível a qualquer um. Da
mesma forma que somos constantemente descritos como “parolos” por
estarmos ligados ao folclore, uma actividade cultural histórica que
dignifica a memória do nosso povo e do nosso passado, posso também
descrever as pessoas que utilizam a palavra “folclore” com
sentido pejorativo, como pessoas de cultura e horizontes limitados. A
cultura não se baseia apenas em literatura estrangeira, em
visualizações de peças de teatro, ballet ou de ópera ou visitas a
galerias de artes contemporâneas. Nos dias que correm, qualquer uma
destas actividades seria de carácter “chique” e digna de uma
pessoa erudita. Já́ o folclore... “Deus me livre! Que parolice!”,
como diria o típico português...Bom, e por isso eu pergunto: o
problema está na palavra ou no seu utilizador?
Ora,
se folclore (tendo a sua base etimológica em “sabedoria popular”)
é a consagração dos usos e costumes dos nossos antepassados - dos
nossos avós, bisavós ou trisavós -, se quem propaga e protege esta
actividade em vias de extinção, devido à falta de cultura
educacional é apelidado de “parolo”, então, o que são os
outros que lhes chamam isso? Eruditos ou Incultos?
Mas
penso que mais engraçado (ou não) do que isto, é o facto desses
mesmos “eruditos” serem capazes de aplaudir com vigor, um
espectáculo estrangeiro repleto de saltos acrobáticos ou cantos
melodiosos. Traduzindo: folclore de outros países.
Por
isso, como dizia o outro: “E o burro sou eu?!”
Texto de;
Grupo Folclórico
Dr. Gonçalo Sampaio
Manuela
Sá Fernandes.
No;
No;
Correio
do Minho 27 de Janeiro de
2015