segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Do "Cancioneiro de S. Simão de Novais"



 
"Cancioneiro de S. Simão de Novais" (1ª e 2ª Series) "Revista de Guimarães"
(1922-23) (1924-29)  
Fernando Castro Pires de Lima

  

Minha mãe case-me cedo                                  Minha mãe case-me cedo                     
Que a causa bem sabe                                       Enquanto sou rapariga
O dado são quinze anos                                     O milho sachado tarde 
…E eu já tenho dezasseis                                  Nem dá palha nem espiga



 O primeiro amor que tive                                 Minha mãe quando me teve
 Era filho dum doceiro                                       Cuidava quer estava rica
 Os dentinhos tinha-os podres                          Depois queria-me matar
 Na boquinha um mau cheiro                            Com remédios da botica


Se eu soubera quem tu eras                           A oliveira do adro
E quem tu vinhas a dar                                     Ramo dela tem virtude
Mandava vir da farmácia                                  Passei por ela doente
Remédio p,ra te matar                                      E logo tive saúde


Vou-me embora do meu amo                           Mandaste-me cegar a erva          
Não lhe devo nenhum dia                                 Lá no campo da amargura                    
Antes me ele deve a mim                                 Se fizer uma ferida
As noites que eu não dormia                           Morro e não tenho cura

 
Vou-me embora do meu amo                          Não quero amor pedreiro        
Não lhe devo nenhum dia                                 Que atira as pedras ao ar      
Antes me ele deve a mim                                Quero amor carpinteiro
As noites que eu não dormia                          Que me dá lenha pró lar

É um regalo na vida                                         Eu tenho quatro amores
Cá na terra pastorar                                        Dois de manhã,dois de tarde;
Quem tem sede. vai beber                             A todos digo sim
 Quem tem calma, vai nadar                          Só a um falo verdade.






O Que Era Uma Carpideira?



Nos tempos dos nossos antepassados existia uma profissão chamada Carpideira que consistia em chorar para um morto em troca de dinheiro.
A carpideira era uma profissional feminina cuja função consistia em chorar para um defunto alheio. 


 Era feito um acordo monetário entre a carpideira e os familiares do defunto, a carpideira chorava e mostrava seus prantos sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade.

O principal objetivo era levar os participantes no velório ao choro e lamento, mesmo que o defunto não merecesse.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O Conceito de Tradição




Sabemos e defendemos que preservar a tradição não significa ser retrogrado nem oposição ao modernismo ou aos avanços tecnológicos que revolucionaram o mundo. Mas é antes preservar um enorme manancial de saberes acumulados e a identidade de um povo ou de uma cultura.
Numa perspectiva filosófica e na sequência do historicismo europeu de Benedetto Croce e Schleiemacher, segundo Pires (1795-1983) o conceito de tradição desempenha um papel bastante importante uma vez que o Homem e a História são dois pólos interligados, pois para pensar a História, o homem não pode sair desse campo, dado que o conhecimento e a compreensão que o homem tem de si, da natureza e da história, mergulham na tradição.
Verifica-se assim que a tradição é necessária á compreensão do ser humano, pois cada homem nasce e cresce numa cultura, fala uma língua que já por si, veicula uma visão da realidade.    
A tradição possibilita a compreensão e porventura, pode limitar. A tradição não é algo puramente objetivo frente ao homem; ela constitui o próprio ser do homem. É partindo deste pressuposto que a tradição possibilita ao homem compreender e aceitar a sua situação histórica. No entanto a tradição é entendida como uma norma absoluta de verdade, como autoridade inviolável em filosofia, em ciência mas que paralisa o pensamento e a evolução pois o homem pensa no presente. O presente é carregado de passado. Mas a tradição que não é portadora de futuro, em vez de abrir, fecha o horizonte de compreensão e impossibilita o diálogo com a história e com a comunidade humana.


Do Livro;  
“O Sagrado no Imaginário Barrosão”