Estas palavras derivam da união de dois
vocábulos gregos: ethnos ( que significa “povo”) e graphein (que significa
“grafia”,”escrita”,”descrição”, ou melhor, “estudo descrito”). Logo,
etimologicamente, a etnografia é o estudo descrito de um povo.
Note-se que digo “ de um povo “ e não
“ do povo”, pois aqui o termo “povo” não é usado no seu significado social (
isto é, não se refere a uma camada social, a uma classe social ) mas sim
significando um conjunto de indivíduos unidos entre si por laços comuns , histórica,
cultural, religiosa, social, etc.
Mais particularmente poderemos dizer
que a etnografia é a ciência que estuda e descreve os agregados populacionais.
E sendo assim, a etnografia descreve e estuda o povo de um dado país, de uma
dada província, de uma dada região, de uma dada comunidade, etc...
A etnografia é uma das várias ciências auxiliares de antropologia.
A palavra “antropologia” é,
igualmente, composta por dois vocábulos gregos: anthropos ( que significa
“homem”, a espécie animal homem ) e logos ( que significa “ conhecimento “ , “
estudo “ ). Portanto a antropologia é a ciência que estuda o homem em geral, o
homem total - desde o seu especto físico á sua cultura, á sua maneira de ser e
viver, á sua organização social, etc...
Mas, como o homem é um ser duplamente físico
e mental - e, também, um ser social - a antropologia estuda-o sob esses três aspectos.
Há, assim, uma antropologia geral que se divide em dois grandes ramos: a
antropologia física e a antropologia cultural ou social. ( há já hoje até
alguns antropólogos que consideram que existem paralelamente.
Uma antropologia física, uma
antropologia cultural e uma antropologia social, fazendo, portanto, uma
distinção entre antropologia cultural e antropologia social). Mas, aqui, neste
pequeno caderno de divulgação, usarei a divisão clássica, geralmente aceite, da
antropologia geral nos dois grandes
ramos - antropologia física e antropologia cultural - dois ramos, aliás, que
constituem duas ciências se não diferentes, pelo menos com campos de estudo e objectivos
diferentes.
A antropologia física não estuda o
físico ( o organismo ) do homem - tarefa e objetivo da medicina - mas sim o seu
especto físico, ou seja, o homem somático, ou melhor ainda, as características
físicas particulares a cada raça ou grupo ético: a configuração do esqueleto, o
formato do crânio, a maior ou menor abertura do ângulo facial, a cor da pele, a textura dos cabelos, a implantação dos maxilares, a maior ou menor abertura e
o formato das órbitas oculares, o formato das fossas nasais, a distribuição de
adiposidades, etc...
Em contrapartida, a antropologia cultural - a
que também se dá o nome de etnologia - estuda o homem como produtor e
transportador de cultura e ainda a maneira de viver de cada raça ou grupo
ético. ( os antropólogos que fazem a distinção entre antropologia cultural e
antropologia social consideram que a primeira estuda o homem como produtor de
cultura, isto é aquilo que ele produz tanto de material como de espiritual,
enquanto a segunda estuda o homem como ser social, ou seja, as formas, sociais
particulares de cada raça ou grupo étnico).
Um pouco de história - a palavra
folclore é a forma aportuguesada da palavra inglesa folklore, palavra, aliás
composta por duas palavras de origem saxónica: folk ( povo ) + lore ( tradição
). Trata-se de uma palavra que foi usada pela primeira vez em 1846 pelo
arqueólogo inglês William John Thomas .
Folclore
com Etnografia
Muitas pessoas confundem folclore com
etnografia ou com etnologia crendo que se trata da mesma coisa. Ora, não é
inteiramente assim.
A etnografia e o folclore só têm de comum
entre si a metodologia que é igual para uma e para o outro.
Quanto á etnologia e folclore, a diferença que
existe entre uma e outra é a seguinte: enquanto a etnologia estuda actividades
e objectos concretos, materiais, o folclore estuda actividades e objectos
espirituais e artísticos, tradições, usos e costumes, etc...
Assim, poderemos definir o folclore
como sendo a ciência etnológica ( ou auxiliar da etnologia ) que estuda os
usos, costumes, tradições espirituais e as expressões orais e artísticas de um
povo ou de um grupo étnico evoluídos. Usar nesta definição a palavra “ evoluídos
“ é absolutamente necessário pois que só os povos evoluídos têm folclore uma
vez que os povos primitivos têm a sua própria cultura.
Quer isto dizer que o folclore estuda os usos,
costumes e as tradições milenárias e seculares de povos cujos padrões de vida
deixaram de ser primitivos. Por exemplo: um batuque no interior da África, uma
doença ou uma canção da Polinésia, etc..., não são folclore são cultura ao
passo que uma romaria nortenha ou saloia, o fandango, o trajar de saloio ou um
coral alentejano são folclore porque sendo manifestações populares são-no de um
povo que vive dentro dos padrões sociais actuais usando das conquistas técnicas
universais.
É por essa razão que os assuntos habitualmente
estudados pelo folclore são: danças e canções; trajos populares; instrumentos
musicais; festas, feiras, mercados e romarias; medicina popular e magia;
lendas, contos e “histórias”; poesia popular; provérbios e adivinhas; jogos
infantis; jogos e brincadeiras populares; usos e costumes regionais; etc...
A etnografia e o folclore, divide-se em dois
tipos de trabalho: o trabalho de campo e o trabalho de gabinete. Ao trabalho de
campo, também se dá os nomes de pesquisa e recolhas. Assim, trabalho de campo,
pesquisa ou recolha são uma só e a mesma coisa. Que é, portanto, o trabalho de campo?
É precisamente o trabalho de pesquisa e recolha de elementos que se efectua no
campo de estudo. Como é óbvio, de uma maneira geral, o campo de estudo de
etnografia e do folclore situa-se nos pequenos aglomerados populacionais rurais
afastados dos grandes centros. O princípio básico do trabalho de campo é saber
ver, ouvir e reproduzir. Quer isto dizer que o pesquisador, o investigador de
campo, tem de ser o mais objectivo possível. Em que consiste, pois, o trabalho
de campo? Consiste na pesquisa e recolha de elementos, dados, informações, objectos
( documentos ) de carácter etnológico.
Como se faz essa recolha? Através de
inquéritos, conversas, pedidos de informações, etc... Inquéritos, conversas,
informações que terão de ser registados.
A fotografia é sempre e em todos os
casos, utilíssima; hoje em dia é mesmo imprescindível. O filme é muito útil
sobretudo pela noção de movimento que nos dá. Por isso é imprescindível no
estudo de assuntos em que o movimento é o principal elemento: danças, práticas
sociais colectivas, práticas de trabalho profissional, artesanato, etc. A
gravação é hoje muito importante no estudo das expressões musicais, orais, dialectal,
etc.
Trabalho de gabinete - o trabalho de
gabinete é a natural sequência e consequência do trabalho de campo ou da
recolha etnológica; é, portanto, o trabalho de organização, dos elementos e
documentos, isto é, do material reunido na pesquisa ou recolha. Praticamente e
em última análise, é o trabalho de elaboração de fichas e organização de
arquivos.
Cultura e
Tradição
Em ciências humanas a palavra “
cultura “ não tem precisamente o mesmo significado com que a usamos na
linguagem quotidiana. Na linguagem vulgar de todos os dias à ideia de cultura
ligamos a ideia de grande soma de conhecimentos gerais. Por isso, uma pessoa
culta é aquela que possui largos conhecimentos gerais de muitas coisas.
Em ciências humanas, “ cultura “ é
tudo aquilo que um povo ou um grupo étnico adquire do passado, dos seus
antepassados: a língua, usos e costumes, danças e canções, trajos, culinária,
modos de vida e de trabalho, etc. Assim, e de certo modo, cultura é tradição.
Como afirmou o Dr. Ernesto Veiga de
Oliveira ( em “ princípios basilares das ciências etnológicas “ - cadernos de
etnografia nº 3 ), “ cultura, em etnologia, não tem o significado corrente de
palavra que corresponde àquilo a que chamamos cultura superior designado os
produtos da ciência e da inteligência puramente lógica, a criação artística, os
requintes mais elevados do espírito e da técnica, as aquisições individuais de
personalidades de excepção, que caminham na vanguarda do pensamento humano,
livres de condicionamentos circunstanciais, e que são inovadores originais
voltados para o futuro. Cultura, em etnologia, significa, precisamente o contrario: tudo aquilo que o indivíduo, de qualquer época
histórica, seja de que nível técnico, económico e social for, recebe do meio em
que nasceu, se criou, formou e vive, que pertence ao grupo de que ele faz
parte, e lhe veio de fora e do passado - numa palavra, a tradição, a herança
social “.
O principal veículo da cultura é a linguagem,
indispensável à comunicação dos indivíduos entre si. Outro básico veiculo da
cultura é a tradição que passa de geração em geração que se mantêm os usos e
costumes de cada grupo étnico ou cada grupo social. A língua e a tradição ( os
usos e costumes ) estão na base de toda a cultura.
Nota):Estes artigos são resultado
de várias pesquisas que fiz através dos novos meios de informação tecnológicos (Internet) agora
ao nosso dispor e depois de ler vários livros sobre antropologia,
etnografia e folclore.
( Este artigo de opinião foi publicado no "Portal do Folclore Português")
( Este artigo de opinião foi publicado no "Portal do Folclore Português")
Manuel Abreu Castro
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