Ninguém imagina certamente um agricultor de fato e gravata a
lavrar a terra ou um professor vestindo pijama na sala de aulas. Vem isto de
propósito do uso do lenço de tabaqueiro o qual muitas vezes ranchos e grupos
apresentam enrolado ao pescoço dos componentes masculinos . Outros porém em meu
entender de forma mais apropriada, optam por o ter no bolso com a ponta de fora , como
sucede com muitos ranchos e grupos de folclore.
O lenço tabaqueiro surgiu entre nós como um acessório, no
inicio do século XVII em consequência directa do consumo do tabaco, hábito
trazido pelos espanhóis do continente americano. O tabaco era consumido pelos
indígenas que acreditavam nos seus poderes medicinais, razão pela qual o consumiam
em ocasiões cerimoniais, o tabaco era mascado ou aspirado sob forma de rapé,
tornando-se um hábito social que perdurou até aos finais do século XIX altura
que se começou a generalizar o consumo do tabaco sob forma de cigarros.
O consumo do rapé consistia em levar o tabaco em pó às
narinas a fim de ser fortemente aspirado, gesto que provocava o espirro ou o
pingo no nariz, sendo estão considerado um óptimo estimulante nasal.
Esta
reacção requeria naturalmente o uso de um pano, geralmente de algodão, para
efeitos de higiene pessoal, passou a ser dobrado e guardado no bolso. Isto nada
tem a ver com costume entretanto surgido do uso de um lenço de seda ao pescoço,
o qual se apresenta em substituição da secular gravata, nem tão pouco o lenço
de cabeça outrora utilizado pelas mulheres.
Foi em Alcobaça que em 1774 se instalou em Portugal a
primeira fábrica de lenços, cambraias e fazendas brancas, ao tempo do reinado
de D. José I , razão pela qual esse género de lenço também é conhecido por « o
Alcobaça » . Ao longo do tempo produziu uma grande variedade de padrões, sendo
que geralmente apresentam fundo vermelho, azul ou amarelo, com barras brancas
de diversas cores.
Compreensivelmente, tratando-se de um objecto de higiene
pessoal, a ninguém lembraria enrolar ao pescoço o referido lenço que servia
para assoar o nariz do efeito provocado pelo cheiro do rapé. Mas com efeito
alguém teve a triste ideia, de o dobrar ao meio e atando-o ao pescoço , gesto
que se multiplicou por numerosos grupos e ranchos de folclore que o assimilaram
como se de algo genuíno se tratasse ou seja, ele fosse realmente usado ao
pescoço do homem no século passado. Quero dizer que os responsáveis desses
grupos não se deram ao trabalho de investigar, limitando-se a copiar aquilo que
simplesmente os impressionou e pareceu bem.
Do ponto de vista etnográfico, não pode o trajo com
referência a uma determinada época e região em concreto ser apresentado de uma
determinada forma ou ser-lhe acrescentado algo porque assim nos agrada, devendo
limitarmo-nos a identificar como as pessoas realmente se vestiam,
independentemente da eventual beleza e exuberância do vestuário que era usado,
como tal o lenço de tabaqueiro é apresentado por grupos folclóricos deve ser repensada!
3 comentários:
O uso so lenço tabaqueiro ao pescoço tem a ver com com o trabalho do campo, com o suor e com os trabalhos onde havia mto pó. O lenço era atado ao pescoço de forma a evitar que o pó entrasse tanto pelo pescoço abaixo e que o suor que escorria da cabeça, cheio de pó, fosse de certa forma absorvido pelo lenço. Não podemos esquecer que não era todos os dias que se tomava banho, mto menos que se lavava a roupa. O lenço mtas vezes levava uns nós nos cantos e enfiava-se na cabeça por debaixo do chapéu ou até mesmo para proteger do sol na falta de chapéu, pois nem todos podiam comprar chapéu.
Onde posso encontrar documentação que prove que era usado pelo povo no fim do século XIX?
eu sou uma fonte...
tenho lenços tabaqueiros de meus familiares populares (sec XIX) que os usavam em algumas das situações descritas
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