Somos um povo que ainda resiste as raízes de vidas não
pereceram, canções e os relatos mantém-se vivos no século XXI dando
continuidade ao legado deixado pelo etnomusicólogo Michel Giacometti e muitos
outros, nos anos de 1970. Histórias de vida e canções que resistiram à
modernidade, traços que caminham de um outro tempo, sobreviventes nas memórias
dos artesãos, das ceifeiras, dos cavadores. Chegam-nos como cantigas de semear,
de maldizer, de colher, de bailar, de abençoar, de pecar, de agradecer, de
protestar, de adormecer.
Há muito pouco trabalho de recolha e o que existia
estava muito cingido às autoridades do Estado Novo que queriam o espartilhar
por um lado e, por outro condicionar a visão que tínhamos da nossa cultura
popular, realça Michel Giacometti acrescentando que “tinha noção que um povo
consciente da sua existência detinha uma força que o Estado Novo não sabia controlar”.
A figura e o trabalho, são realçados em várias obras de Michel Giacometti que são
uma espécie de analogia que permite perceber as mudanças registadas 45 anos
depois.Ele Michel Giacometti reúne,
recolhas musicais, que não estão agarradas a contextos geográficos ou
catalogados científica e etnograficamente.Giacometti encontrou os tesouros
completamente por desbravar. Não fez este trabalho sob o ponto de vista
científico mas sim inspirado. Baseava-se na cientificidade de etnomusicólogo
que chocava muito com as regras científicas utilizadas naquela altura. Estas
estiveram vigentes durante muito tempo, um tipo de trabalho muito menos próximo
das comunidades e das populações, houve alguém que disse que a proximidade dele
ao povo fez-lhe descobrir tesouros que os teóricos não descobriram. “Os que não
sujaram as botas na lama das estradas não descobriram”. Por isso as pessoas
continuam a cantar e a ter algumas actividades culturais e em comunidade que
lhes são úteis para o desenrolar do seu dia-a-dia.
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