APONTAMENTOS ETNOGRÁFICOS
                                       Os Talêgos
Os  talêgos eram sacos multicolores, de tamanho variável, confeccionados  pelas mulheres com as sobras dos panos usados na confecção de saias,  blusas e aventais ou mesmo de roupa velha que se tinha deixado de usar.  Tinham um cordão ou nastro que corria dentro de uma bainha e que os  permitia fechar. Podiam ser forrados ou ser singelos. Alguns eram  rebuscados na sua concepção e manufactura, a qual podia incluir pompons e  borlas. Outros haviam que eram simples, sendo alguns, até,  manufacturados com um único tecido.
Os  talêgos eram o providencial modo de transportar aquilo que de que  precisávamos. Ia-se às compras de talêgo, o qual era lavado sempre que  necessário. Havia um talêgo para ir aviar a mercearia e outro para ir ao  pão, bem como outro para ir ao grão, ao feijão ou ao milho. Usávamos  também um talêgo para guardar os magros tostões que tínhamos e ainda  outro para guardar a existência usada no jogo do botão.
Os  camponeses guardavam as sementes em talêgos e os moleiros recebiam  talêgos de trigo, centeio ou milho, que devolviam com farinha, após  terem subtraído a maquia devida à moagem. Era também nos talêgos que se  levava comida para o local de trabalho.
Em  nossas casas, nas arcas, cómodas e guarda-fatos havia pequenos talêgos  com alfazema, que pelo seu cheiro afugentava traças, moscas, mosquitos e  demais insectos. Nesses mesmos locais, existiam por vezes talêgos  maiores, nos quais se acondicionava a roupa mais delicada ou mais antiga  e que inspirava mais cuidados de preservação.
A  pobreza, a falta de oportunidades de vida, a adversidade do clima, as  catástrofes, a política repressiva, fizeram com que ao longo dos tempos, o povo português tivesse de emigrar, visando a melhoria das suas  condições de vida. Para transportar os seus bens, a maioria das vezes,  uma parca bagagem, lá estavam o talêgo e mais tarde, a mala de cartão.
O  talêgo era a embalagem reciclável inventada pelo sabedoria popular, que  sempre soube encontrar formas criativas de lutar contra a adversidade e  a falta de meios. Depois de puído e roto pelo uso e pelas lavagens  sucessivas, era remendado por mãos hábeis de mulheres, que assim lhe  prolongavam a longevidade. E mesmo depois de serem abatidos ao serviço  como “talêgos”, continuavam ter préstimo. Serviam de rodilha ou de  esfregão, até tal ser possível. Só depois se deitavam fora, para serem  degradados pela terra-mãe e renascerem sob outra forma.    Do blogue ; Sintra seu Povo
 
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